HÁ 85 ANOS, QUATRO ADOLESCENTES EM BUSCA DE UM CACHORRO DESCOBRIRAM UMA CAVERNA COM ARTE RUPESTRE DE 17 MIL ANOS NA FRANÇA; ENTENDA
Há 85 anos, quatro adolescentes em busca de um cachorro descobriram uma caverna com arte rupestre de 17 mil anos na França; entenda
Imagens impressionantes revelam os animais, gravuras e signos que transformaram Lascaux em um dos maiores tesouros da pré-história
Por O Globo — Montignac, França
12/09/2025 07h55 Atualizado há 4 dias
Era o meio da Segunda Guerra Mundial, no vilarejo de Montignac, sudoeste da França, um lugar mais lembrado pela tranquilidade rural do que pela História antiga. Nesse dia 12 de setembro de 1940, quatro crianças, Marcel Ravidat, Jacques Marsal, Georges Agnel e Simon Coencas, seguiram seu cachorro Robot até uma toca de raposa na colina de Lascaux. De início, o que queriam era apenas resgatar o animal desaparecido. Mas, ao cavar distraidamente no solo para alcançá-lo, abriram uma fenda e, dela, um portal: adentraram uma caverna escura onde paredes guardavam figuras que ninguém até então suspeitava existir.
Segundo o portal oficial Lascaux, munidos de lâmpadas improvisadas, os jovens exploraram o interior, encontrando gravuras e pinturas. No Divertículo Axial, lanternas revelavam animais e traços humanos, abstrações que deixavam claro: aquilo não era somente arte, era testemunho de uma mente ancestral. Depois de voltarem para casa, trouxeram professores e estudiosos; pouco tempo depois, a importância do sítio se impôs para a ciência.
Imagens da carverna Lascaux na França
Entre 1948 e 1963, Lascaux foi aberta ao público. Visitantes vindos de toda parte admiravam salas como a Sala dos Touros, passagens decoradas, pinturas que escorriam sobre tetos curvos. Mas este espetáculo teve um preço: luz, respirações humanas, calor e níveis de CO₂ inadequados originaram crescimento de algas, fungos e desgaste das cores. As superfícies outrora vibrantes começaram a se deteriorar.
Assim, em 1963, o governo francês decidiu fechar a caverna original indefinidamente para visitantes comuns. As operações de preservação se intensificaram, exigindo monitoramento constante do microclima interno, controle de fungos, medidas de restauração, todos passos cautelosos para impedir danos irreversíveis.
Pigmentos e ferramentas
Segundo o Ministério da Cultura da França, os artistas de Lascaux trabalharam com uma paleta limitada porém sofisticada: vermelhos, amarelos, pretos e tons terrosos diversos, todos derivados de minerais. O vermelho vinha de hematita, o amarelo de goethita ou de óxidos de ferro, o preto de carvão ou de óxidos de manganês.
Para aplicar esses pigmentos, usaram técnicas variadas: pigmento soprados através de ossos ocos, pincéis improvisados com musgo ou pelo, até mesmo pulverização da tinta no ar; gravuras cavadas com ferramentas de pedra ou ossos; superfícies que aproveitavam relevos naturais para dar dimensão e vida às figuras.
Além disso, os pigmentos nem sempre vinham de perto: o manganês utilizado nas formas mais negras tem origem em depósitos consideráveis distantes, cerca de 250 km dos Pireneus centrais, o que sugere rotas de suprimento, trocas ou pelo menos mobilidade inesperada entre esses povos pré-históricos.
Réplicas, museus e o legado
Com a caverna original vulnerável, foi criada Lascaux II, réplica parcial inaugurada em 1983, sobre o mesmo morro de Montignac. Ela reconstitui salas importantes como a Sala dos Touros e a Galeria Axial, usando pigmentos naturais e técnicas similares às dos artistas antigos.
Mais recentemente, Lascaux IV, o Centro Internacional de Arte Parietal, inaugurado em 2016, reproduz toda a caverna, agregando tecnologia interativa, espaços expositivos para contextualizar a arte de Lascaux no panorama mundial e facilitar o acesso visual ao conjunto completo sem pôr em risco o original.
Por que Lascaux ainda nos fascina?
Porque em Lascaux reside uma memória viva, não apenas da técnica, do desenho ou da cor, mas de como os seres humanos há milênios buscavam registrar, contar, representar. Animais correndo, cenas simbólicas, sinais que resistem ao tempo; toda uma forma de ver o mundo quando o mundo era mais imprevisível. E também porque Lascaux é prova de que às vezes o acaso pode abrir portas para algo muito maior do que qualquer plano humano.
Fonte:https://oglobo.globo.com/mundo/epoca/noticia/2025/09/12/ha-85-anos-quatro-adolescentes-em-busca-de-um-cachorro-descobriram-uma-caverna-com-arte-rupestre-de-17-mil-anos-na-franca-entenda.ghtml
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