ROKUDÕ E A COSMOLOGIA BUDISTA

 


Māyā é a ilusão que aprisiona os seres na roda do Samsara. Apesar de sua representação artística, Māyā não é nada, não existe, afinal, os seis reinos do Rokudo são um não lugar, e tal qual uma miragem, a ilusão desaparece quando o ser é capaz de enxergar através de Māyā, isto é, da ilusão
Māyā é a ilusão que aprisiona os seres na roda do Samsara. Apesar de sua representação artística, Māyā não é nada, não existe, afinal, uma ilusão não pode existir e os seis reinos do Rokudō são um não lugar, e tal qual uma miragem, a ilusão desaparece quando o ser é capaz de enxergar através de Māyā, isto é, da ilusão

 Já ouviu falar no Samsara (संसार)? Se ainda não ouviu, saiba que você está nesse lugar, ou melhor, não-lugar que é conhecido no Japão como Rokudō (“六道”, Seis Caminhos).

Rokudō e a cosmologia budista

Esses reinos, caminhos ou não-lugares são fundamentais para toda a cosmologia budista.

As diferentes escolas de budismo se baseiam no Samsara para interpretar os estados de existências presentes no Rokudō, em outras palavras, designa a posição de cada ser dentro de Māyā (माया), a ilusão, sono da ignorância, o Ciclo de Sofrimento.

Assim como nas religiões ocidentais, seguidores do budismo também esperam gerar bons karmas para poderem renascer em planos superiores de existência, o que é um equívoco sob dois pontos de vista:

Para o budismo, a roda do Samsara é uma prisão independentemente de qual lugar do Rokudō o ser se encontra.

Além disso, gerar karma, bom ou mau, é negativo. Parece contraditório, mas não é. A geração de karma significa a permanência no sono da ignorância.

O trânsito dos seres pelo Samsara

Enquanto o ser não atinge minimamente o Nirvana (निर्वाण), isto é, se libertar de todos estados de consciência que levam ao sofrimento do Samsara, os seres transitam descontroladamente pelos reinos do Rokudō através da morte e renascimento.

Nesta imagem da roda do Samsara é possível observar uma série de simbologias. Māyā está literalmente agarrado com unhas e dentes nos seis reinos do Rokudō, que ocupa posição de destaque na imagem, ofuscando dessa forma, o mundo real, a realidade. No canto superior direito, está a Lua (associada as emoções, a psique e as águas internas), Buddha e presumidamente um Bodhisattva. Ambos estão fora da roda do Samsara e Buddha indica ao Bodhisattva a roda do Dharma (também fora da roda do Samsara) que está no canto superior esquerda ao lado do Sol que dissipa a escuridão com sua luz. Em suma, o Dharma, isto é, a palavra iluminada não é e não vem deste mundo
Nesta imagem da roda do Samsara é possível observar uma série de simbologias. Māyā está literalmente agarrado com unhas e dentes nos seis reinos do Rokudō, que ocupa posição de destaque na imagem ofuscando o mundo real, a realidade. No canto superior direito, está a Lua (associada as emoções, a psique e as águas internas), Buddha e presumidamente um Bodhisattva. Ambos estão fora da roda do Samsara e Buddha indica ao Bodhisattva a roda do Dharma (também fora da roda do Samsara), que está no canto superior esquerdo ao lado do Sol, que dissipa a escuridão com sua luz. Em suma, o Dharma, a palavra iluminada, não é e não vem deste mundo

Não há dúvidas, renascer nos reinos superiores é melhor do que renascer nos reinos inferiores.

Contudo, a probabilidade de renascer nos reinos infernais após a morte de um ser nos superiores é gigantesca.

Trânsito no Bardo para derterminar local no Samsara

O trânsito dos seres entre os seis reinos do Rokudō acontece durante o Bardo (བར་དོ), o Chūin (中陰) para o budismo japonês.

Esse estágio intermediário dura 49 dias (ou 100 dias a depender da escola) e determina futuro de um ser que deixou de existir em um dos seis planos de existência da roda do Samsara.

Nas diversas representações da roda do Samsara sempre há um círculo demonstrando o movimento cíclico que os seres reproduzem indefinidamente pelos reinos do Rokudō. No centro sempre há três animais ligados um ao outro pela mordida na cauda e são representações do que é considerado os 3 grandes venenos que prendem os seres aos apegos do Samsara: o desejo (galo), a inveja e o ódio (serpente) e a ignorância (javali). A ignorância aqui não deve ser entendida como a ignorância intelectual, trata-se da ignorância que submete os seres a satisfazer seus prazeres sensoriais, ignorando assim sua existência espiritual
Nas diversas representações da roda do Samsara sempre há um círculo demonstrando o movimento cíclico que os seres reproduzem indefinidamente pelos reinos do Rokudō. No centro sempre há três animais ligados um ao outro pela mordida na cauda e são representações do que é considerado os 3 grandes venenos, que prendem os seres aos apegos do Samsara: o desejo (galo), a inveja e o ódio (serpente) e a ignorância (javali). A ignorância aqui não deve ser entendida como a ignorância intelectual, trata-se da que submete os seres a satisfazer seus prazeres sensoriais, ignorando assim sua existência espiritual

Destino do ser é determinado

Esse estágio intermediário entre a morte e o renascimento determinará o destino de um ser.

Nível de consciência libera ou retém

O nível de consciência é fundamental para a permanência ou libertação do Samsara.

6 reinos do Samsara

Agora que você já entendeu o propósito do Samsara (Rokudo), abaixo terá acesso a um guia completo com a descrição dos 6 Reinos e todos os seus níveis de seres.

Por isso, abaixo confira um sumário sobre os seis planos de existência do Rokudō com todos os seres descritos de cada nível de forma completa.

Ao clicar irá direto para o tópico. Se não quiser, pode seguir o texto que passará por todos os reinos, conforme for lendo.

Na última parte terá conhecimento dentro do Reino Tendo, quais são os ritos de passagem da alma depois da morte, segundo o budismo.

Se quiser ir direto para esta parte, clique: Processos de julgamentos pós-morte do budismo

Jigokudō (地獄道) – O reino do inferno budista

O Reino dos Seres Inferno é o pior de todos os reinos. A ele são entregues seres transgressores violentos, que queimarão o karma negativo gerado antes dos seres deixarem de existir em um reino superior sendo violentados, agredidos e torturados.

Em nível de sofrimento, os infernos das diferentes cosmologias religiosas do mundo não são muito diferentes.

Contudo, tanto no budismo como nas religiões espiritualistas, como a Umbanda e o Espiritismo, por exemplo, não é uma prisão permanente.

O reino do inferno budista, Jigoku. Nesta representação, o reino retrata os 8 infernos, quatro de fogo (a esquerda) e quatro gelado (a direita)
O reino do inferno budista, Jigoku. Nesta representação, o reino retrata os 8 infernos, quatro de fogo (à esquerda) e quatro gelado (à direita)

Arrependimento e resgate

Independentemente das transgressões cometidas, aqueles que purgam seus karmas negativos no Jigokudō podem eventualmente ser resgatados por seres iluminados, após o arrependimento profundo e sincero de seus atos, mas em regra, deverão cumprir suas sentenças.

Níveis do Jigokudo

Jigokudō possui muitos níveis. Há textos que dizem haver 64 mil níveis, outros descrevem 16 níveis, oito quentes e oito gelados.

Contudo, este artigo focará nos 8 níveis do inferno descritos pelo Jōdo-shū (浄土宗), o Budismo Terra Pura.

Antes de apresentá-los, vale a pena citar um pequeno trecho da obra A Divina Comédia de Dante Alighieri, o Canto III onde, acompanhado por Virgílio, poeta romano clássico guia Dante em sua visita ao inferno, descreve o que está escrito na entrada do inferno:

lustração do início do Canto III da formidável obra de Dante Alighieri com seu guia no inferno, o poeta romano clássico Virgílio
lustração do início do Canto III da obra de Dante Alighieri com seu guia no inferno, o poeta romano clássico Virgílio

Per me si va ne la citia colente (Por mim se vai à cidade dolente)

Per me si va ne l’etterno dolore (Por mim se vai à eterna dor)

Per me si va tra la perduta gente (Por mim se vai à perdida gente)

Giustizia mosse il mio Alto Fattore (Justiça moveu o meu Alto Criador)

Facemi la divina podestate (Que me fez com o divino poder)

Ao soma sapïenza e ‘l primo amore (O saber supremo e o primeiro amor)

Dinanzi a me non four cose create (Antes de mim coisa alguma foi criada)

Se non etterne, e io etterna duro (Exceto as coisas eternas, e eterna eu duro)

Lasciante ogne speranza, voi ch’intrate (Abandonai todas as esperanças, vós que entrais)

Abaixo, confira um índice dos 8 níveis do inferno budista, se quiser seguir direto para qual deseja saber mais.

Ao clicar nos links abaixo seguirá ao tópico de forma direta.

1. Toukatsu Jigoku (等活地獄)

Este nível é o primeiro. As traduções possíveis para Toukatsu Jigoku são “Revivendo o Inferno”, “Inferno da Regeneração” ou “Inferno da Repetição da Miséria”.

São dedicados àqueles que cometem um ou mais assassinatos.

Algumas teses defendem inclusive a morte de animais e insetos aos que entram em combate com outros seres.

Também aos que morrem em motins ou rebeliões e não se arrependem de suas ações.

Embora a ilustração aparentar claridade no Toukatsu Jigoku, trata-se de uma escuridão que somente o fogo infernal pode amenizar um pouco
Embora a ilustração aparentar claridade no Toukatsu Jigoku, trata-se de uma escuridão que somente o fogo infernal pode amenizar um pouco

Neste local de fogo e tortura ininterrupta, os seres são condenados a lutarem uns contra os outros e sentirem o mesmo sofrimento que infligiram aos outros seres.

Após serem completamente destroçados são revividos, semelhante ao mito grego de Prometeu.

Neste nível, os seres vivem por 500 anos. Cada dia no Toukatsu Jigoku equivale a 500 anos no reino dos Shitennō.

Cada dia no reino do Shitennō equivale a 50 anos no reino humano. Em suma, a condenação pode durar 1,6 trilhões de anos no reino humano.

2. Kokujou Jigoku (黒縄地獄)

O segundo nível é dedicado aos que cometeram a transgressão do homicídio e também o pecado do roubo, não necessariamente concomitantemente como em casos de latrocínio.

Umas das diversas formas de ter o corpo mutilado no segundo nível do inferno, o Kokujou Jigoku
Umas das diversas formas de ter o corpo mutilado no segundo nível do inferno, o Kokujou Jigoku

No Kokujou Jigoku, o “Inferno das Cordas Pretas”, existem duas punições. Na primeira, os Oni (demônios) derrubam a alma em um chão fervendo e utilizam cordas/fios pretos para marcarem as partes do corpo que serão cortadas com serras ou com machado.

Na segunda punição, as almas são obrigadas a cruzar uma corda carregando pilhas de ferro fervente sob uma panela de óleo fervente. Quando a alma cai na panela fervendo, seu corpo é retalhado.

Depois de tentar cruzar a corda preta com ferro fervente amarrado a costa, o corpo da alma é retalhado pelo Oni e logo depois reconstruído até o fim de sua existência no Kokujou Jigoku
Depois de tentar cruzar a corda preta com ferro fervente amarrado a costa, o corpo da alma é retalhado pelos Oni e logo depois reconstruído até o fim de sua existência no Kokujou Jigoku

Uma vida neste nível dura mil anos, considerando que um dia equivale a mil anos no reino dos Touriten (とう利天), e cada dia no Touriten equivale a 100 anos no reino humano, ou seja, aproximadamente 13,3 trilhões de anos terrestres.

3. Shugou Jigoku (衆合地獄)

Destinado aos homicidas, ladrões e lascivos (luxuriosos e estupradores), esse nível é dez vezes pior em relação ao anterior. O “Inferno do Esmagamento” é um lugar montanhoso e com árvores, contudo, suas folhas são lâminas afiadas.

O castigo dos lascivos seria cômico se não fosse trágico. Repetem o mesmo erro ininterruptamente no Shogou Jigoku guiados por seus instintos primitivos
O castigo dos lascivos é o de repetir os mesmos erros que cometeram ininterruptamente em vida no Shogou Jigoku, onde são guiados por seus instintos primitivos

Em cima das árvores, homens e mulheres sensuais convidam os seres do Shugou Jigoku para a prática de atos sexuais. A medida em que os lascivos sobem nas árvores, vão se mutilando com as lâminas.

Quando eventualmente conseguem chegar ao topo, os homens e mulheres sensuais reaparecem embaixo da árvore e os convida para descer.

Nesta ilustração é possível ver o castigo aplicado aos pedófilos no Shogou Jigoku e o castigo destinado aos beberrões do nível abaixo, o Kyoukan Jigoku
Nesta ilustração é possível ver o castigo aplicado aos pedófilos no Shogou Jigoku e o castigo destinado aos beberrões do nível abaixo, o Kyoukan Jigoku

Quando os seres ficam presos nas árvores, os Oni vêm se alimentar de suas entranhas até não restar nada da alma sofredora. Praticantes de sexo oral têm suas línguas pregadas nas orelhas, homossexuais são obrigados a abraçar seu parceiro em um pilar de chamas.*

*Nota de consideração ao final do texto

O castigo dos pedófilos no Shugou Jigoku é o bombeamento de cobre derretido pelo orifício inferior até sair pela boca. Por fim, os Oni empurram­­ montanhas de ferro contra os condenados desse nível até esmagá-los e torná-los carne e sangue.

De tempos em tempos os Oni chocam montanhas de ferro contra as outras no Shogou Jigoku para esmagar os penitentes deste inferno budista
De tempos em tempos os Oni chocam montanhas de ferro contra as outras no Shogou Jigoku para esmagar os penitentes deste inferno budista

Após serem reduzidos a nada, seus corpos são reconstituídos para sofrerem novamente por 2 mil anos. Cada dia no Shugou Jigoku equivale a 2 mil anos no reino Yāma-ten (夜摩天).

Cada dia no Yāma-ten corresponde a 200 anos na terra, portanto, a existência dura aproximadamente 106 trilhões de anos humanos.

4. Kyoukan Jigoku (叫喚地獄)

O “Inferno dos Berros” é dez vezes pior ao nível anterior e é destinado aos homicidas, ladrões, lascivos e beberrões.

No Kyoukan Jigoku, os condenados são presos em uma panela fervente ou em masmorras de ferro para serem queimados pelos Oni.

Os que cometem crimes enquanto estão alcoolizados tem suas bocas arreganhadas, enquanto é despejado ferro derretido até chegar em suas entranhas.

Os gritos ensurdecedores desse inferno quente irritam profundamente os Oni.

Conforme o nível do inferno budista aumenta, o sofrimento é multiplicado por 10.  No Kyoukan Jigoku, os penitentes sofrem tanto pelas chamas quanto pelo espancamento constante promovido pelos Oni para que as almas se calem
Conforme o nível do inferno budista aumenta, o sofrimento é multiplicado por 10. No Kyoukan Jigoku, os penitentes sofrem tanto pelas chamas, quanto pelo espancamento constante promovido pelos Oni para as almas se calarem

Para fazer os sofredores pararem de gritar, os Oni arremessam lanças, flechas ou espancam as almas com um bastão de ferro afim de fazê-los se calarem, o que é impossível dado a natureza fervente desse nível.

Uma vida no Kyoukan Jigoku tem 4 mil anos de duração, cada dia equivale a 4 mil anos no reino dos Tosotsu-ten (兜率天).

Cada dia no Tosotsu-tem equivale a 400 anos terrestres.

Com isso, a pena que uma alma deve cumprir nesse nível é de 852 trilhões de anos humanos.

5. Dai-kyoukan Jigoku (大叫喚地獄)

Dez vezes pior ao nível anterior, o “Inferno dos Grandes Gritos” é o lar de assassinos, ladrões, libertinos, beberrões e mentirosos.

Um dos principais castigos do Kyoukan Jigku, o quinto nível do inferno budista, é arrancar a língua indefinidamente do penitente
Um dos principais castigos do Kyoukan Jigoku, o quinto nível do inferno budista, é arrancar a língua indefinidamente do penitente

Os condenados têm a língua perfurada por argolas de ferro que esticam até arrancar. Depois disso a língua é regenerada e tudo recomeça.

Esse tormento é repetido por 8 mil anos. Cada dia equivale a 8 mil anos no reino Keraku-ten (化楽天).

Cada dia no Keraku-ten equivale a 800 anos terrestres, portanto, uma vida no Dai-kyoukan Jigoku dura cerca de 6,8 quadrilhões de anos terrestres.

6. Jonetsu Jigoku (焦熱地獄)

O “Inferno Ardente” é dez vezes pior ao nível anterior. A ele são destinados os assassinos, ladrões, libertinos, beberrões, mentirosos e aqueles com pensamentos e ideais contrários aos ensinamentos budistas.

Penitentes do Jonetsu Jigoku queimando seus karmas negativos por meio da tortura
Penitentes do Jonetsu Jigoku queimando seus karmas negativos por meio da tortura

A tortura é feita pelos Oni com espancamentos de clavas de ferro fervente, além disso, os condenados ao Jonetsu Jigoku têm espetos de ferro fervente encravados na boca e no orifício inferior enquanto são grelhados em um mar de fogo.

Uma vida no Jonetsu Jigoku dura 16 mil anos, um dia representa 16 mil anos no reino dos Takeji Zaiten (他化自在天).

Cada dia no Takeji Zaiten equivale a 1.600 anos no reino humano, e, portanto, uma vida no Jonetsu Jigoku tem duração de mais ou menos 54,5 quadrilhões de anos humanos.

7. Dai-jounetsu Jigoku (大焦熱地獄)

Semelhante ao nível anterior ao tipo de tortura que a alma sofre, o “Inferno do Grande Incêndio” é dez vezes pior ao Jonetsu Jigoku.

Esse nível é tão brutal, que o ser condenado começa a sentir o sofrimento três dias antes de morrer.

O sofrimento no Dai Jonetsu Jigoku sobe de patamar a ponto do penitente começar sua penitência três dias antes de morrer. Não deixa de ser curioso que há casos de pessoas que pouco antes de morrer parecem estar atormentadas com algo que somente ela vê ou sente
O sofrimento no Dai Jonetsu Jigoku sobe de patamar a ponto do condenado começar sua penitência três dias antes de morrer.

Dai-jounetsu Jigoku é reservado aos homicidas, ladrões, lascivos, beberrões, mentirosos, blasfemos e aos que atentam contra clérigos do budismo, incluindo o estupro de monjas.

O sofrimento deste nível é tão extremo, que é possível ouvir os gritos dos condenados a uma distância de quase 40 mil km.

A vida neste lugar dura meio Antarakalpa (अन्तरकल्प), uma medida cosmológica hindi que não é representável matematicamente.

8. Mugen Jigoku (無間地獄)

Não é possível descrever o sofrimento infligido para as almas condenadas ao “Inferno do Sofrimento Ininterrupto”. O último nível do Jigoku é destinado aos que assassinam os parentes, santos e quem viola todos os ensinamentos de Buda.

Acredita-se, aqueles que caem no Mugen Jigoku não saem de lá. O último nível é insano e eles dizem, se fosse possível descrever o que os seres passam neste lugar, as pessoas morreriam como consequência.

O sofrimento infligido aos condenados ao Mugen Jigoku, o oitavo e último inferno budista (Terra Pura) é inimaginável. Dois mil anos de queda livre para chegar e o sofrimento continua na próxima existência
O sofrimento infligido aos condenados ao Mugen Jigoku, o oitavo e último inferno budista (Terra Pura) é inimaginável. Dois mil anos de queda livre para chegar e o sofrimento continua na próxima existência

Levam 2 mil anos de queda livre para uma alma condenada chegar ao Inferno de Sofrimento Ininterrupto.

Os seres têm tanta fome e sede que se mutilam inteiros para beber o próprio sangue.

Uma vida neste lugar dura um Antarakalpa inteiro, em outras palavras, um dos quatro aeons que possuem um grande aeon (Mahākalpa, “महाकल्प”).

Contudo, acredita-se que a punição siga nas próximas existências.

Gakidō (餓鬼道) – O reino dos espíritos famintos do budismo

O Reino dos Espíritos Famintos não é muito melhor em comparação com o Jigokudō.

É um reino destinado aos famintos da alma, pessoas ambiciosas e que nunca estão satisfeitos com o que possuem, sempre em busca de novas coisas ou pessoas para saciar-se.

Gakidō, o reino dos espíritos famintos do budismo, o segundo reino inferior do Rokudō
Gakidō, o reino dos espíritos famintos do budismo, o segundo reino inferior do Rokudō

Seres que criaram esse carma negativo os queimarão neste reino sob uma fome e sede extrema, além de muitos desejos insaciáveis.

36 tipos de espíritos famintos

São 36 tipos de espíritos famintos (gaki) apresentados no sutra Saddharmasmṛtyupasthāna (सद्धर्मस्मृत्युपस्थान).

Espíritos famintos que habitam locais degradados, zonas de aglomerações, com grande circulação de drogas (lícitas e ilícitas) e normalmente sujos com dejetos humanos tais como vômito, urina e fezes
Espíritos famintos habitam locais degradados, zonas de aglomerações, com grande circulação de drogas (lícitas e ilícitas) e normalmente sujos com dejetos humanos tais como vômito, urina e fezes

Os nomes que serão apresentados a seguir foram retirados da tradução do sutra hindi para o mandarim no sutra de budismo chinês Zhengfa Nianchu Jing (“正法念處經”, Sutra das Fundações da Clareza Mental e da Verdadeira Lei).

Alguns espíritos famintos habitam cemitérios e crematório em busca daquilo que os servem como alimento, neste caso, as cinzas, restos mortais ou oferendas deixadas por familiares nas homenagens prestadas a seus entes falecidos
Alguns espíritos famintos habitam cemitérios e crematórios em busca daquilo que os servem como alimento, neste caso, as cinzas, restos mortais ou oferendas deixadas por familiares nas homenagens prestadas a seus entes falecidos

O texto informa sobre sua forma física e o tipo de sofrimento que esses seres vivem por aproximadamente 500 anos.

Cada dia neste reino equivale a 10 anos no reino humano. Além disso, os 36 tipos descritos no sutra estão divididos em dois grupos distintos.

Há gaki que se alimentam de fezes humanas, veneno, ou até mesmo são completamente privados de qualquer fonte de alimentação. Os espíritos famintos descritos abaixo são dão conta de uma parte das consequências karmicas das ações empregadas por indivíduos em relação as outras pessoas. Arte por Matthew Meyer
Há gaki que se alimentam de fezes humanas, veneno, ou até mesmo são completamente privados de qualquer fonte de alimentação. Os espíritos famintos descritos abaixo são de uma parte das consequências karmicas das ações empregadas por indivíduos em relação as outras pessoas. Arte por Matthew Meyer

Alguns seres renascem em um plano próximo ao humano e os outros em locais muito distantes do cosmo semelhantes ao Jigoku, confira:

1. Houshen (鑊身)

São seres com duas vezes o tamanho de um ser humano e com um estômago gigantesco.

Vivem uma vida de miséria e de sofrimento devido a fome extrema e insaciável, dada a escassez de alimentos disponíveis a ele.

Renascem na condição de Houshen aqueles que levaram uma vida de extrema ganância, roubaram de outras pessoas e se recusaram a devolver ao proprietário.

2. Chiran (熾燃)

Com o corpo coberto de chamas, esse gaki é encontrado nas cidades, vilarejos, montanhas ou florestas chorando pela dor infligida pelo fogo.

Renascem como Chiran os que levaram uma vida roubando e saqueando os outros, e aqui estão incluídos os corruptos em posição de poder em relação a outras pessoas.

3. Xiwang (悕望)

Possuem o corpo extremamente peludo e o rosto com rugas profundas.

Em geral não são capazes de fazer mal aos seres humanos (embora possam influenciar pessoas).

Só conseguem se alimentar com a comida oferecida por pessoas enlutadas aos parentes que morreram, razão pelo qual costumam habitar cemitérios.

Esse é o destino de pessoas que lucraram ou se beneficiaram de alguma forma com a desgraça alheia.

4. Shifa (食法)

Conhecidos como comedores de Dharma, são seres deformados praticamente feitos de pele e osso, com as veias saltadas em evidência e olhos vazios (ocos e profundos), são cercados de insetos que os picam lenta e constantemente, infligindo dor e sofrimento ao Shifa.

Renascem nesta condição aqueles que pregaram um falso Dharma, portanto, só conseguem se sentir saciados ao ouvir o verdadeiro Dharma de monges budistas.

5. Sibian (伺便)

Fisicamente semelhantes aos Shifa, os Sibian se diferem por serem atormentados por chamas no corpo.

Mas, diferente dos Shifa, os Sibian não foram seres humanos, são espíritos da natureza que se alimentam de energia negativa produzida pela mente de pessoas obstinadas.

6. DIxia (地下)

Os espíritos do submundo vivem em cavernas ou em ninhos de cobras.

Causadores de epidemias, sua fome é tão grande que eles sofrem não só com ela, mas com os calafrios que derivam da fome.

Em vida foram pessoas que colocaram alguém na prisão para ganhos pessoais.

7. Haizhu (海渚)

Vivem em ilhas desabitadas e se alimentam das gotas de orvalho da manhã.

Tem uma aparência de extrema desnutrição e cabelos desgrenhados, consequência da sede absoluta que são submetidos.

Mesmo em um dia de inverno, os Haizhu sentem o clima dez vezes mais quente do que um dia de verão.

Renascem nessa condição indivíduos que abusaram de pessoas em uma situação de dificuldade como viajantes perdidos e refugiados.

8. Shishui (食水)

Semelhantes aos Haizhu, os Shishui procuram desesperadamente, e em vão, por água.

Habitam locais próximos de drenagem pluvial ou rios para se alimentarem.

Por terem corpos ressecados e quebradiços, não são capazes de se hidratarem e só conseguem ingerir algumas gotas de água por vez.

Renascem nesta condição os produtores de bebidas alcóolicas (especificamente cervejeiros) que utilizam vermes ou insetos em sua produção.

9. Zhenkou (針口)

Conhecidos como boca de agulhas, esses gaki fisicamente semelhantes aos Houshen, ou seja, têm o dobro do tamanho de um ser humano.

Embora sejam chamados de boca de agulhas, na verdade possuem o pescoço do tamanho de uma agulha, logo, mesmo que tenham um banquete a sua disposição, têm extrema dificuldade em ingerir.

É o destino daqueles que tiveram uma vida material abundante e não se prestaram a dádiva da caridade.

10. Shemosheluo (賒摩舍羅)

Os espíritos famintos comedores de cinzas em brasa costumam ser encontrados em cemitérios e crematórios.

Se alimentam das cinzas daqueles que foram cremados, carregam na costa instrumentos de tortura, que simulam o sofrimento infligido em vida, além de ferro fervente na cabeça.

Se tornam Shemoshelou aqueles que roubam as oferendas e flores destinadas a Buda nos templos.

11. Yuse (欲色)

Esses gaki são espíritos da natureza como os Sibian, podem mudar sua forma física e seu gênero.

Se apresentam de forma sensual para se alimentarem da energia sexual e vital de suas vítimas.

São semelhantes aos Incubus (masculino) e Sucubus (feminino) das culturas ocidentais. Também podem se apresentar em formas repulsivas ou de algum animal.

12. Shitu (食吐)

São espíritos famintos comedores do vômito. Embora sejam considerados inofensivos, tendem a influenciar beberrões a beberem mais para vomitar e comerem, o que pode torná-los perigosos para pessoas de mente fraca.

Se tornam Shitu pessoas, que em vida partilharam com outras pessoas apenas restos de comida ou alimentos de baixa qualidade e guardam para si os melhores e mais saborosos alimentos.

13. Shifen (食糞)

Os gaki que comem fezes são semelhantes aos Shitu. Habitam banheiros e locais onde há dejetos humanos em abundância.

Dizem que se você está em um banheiro e sente uma aura estranha, uma sensação de estar sendo observado mesmo que não tenha ninguém, é por que há um Shifen no local.

Assim como os Shitu, os Shifen costumam ser inofensivos, contudo, podem influenciar pessoas a utilizarem drogas que têm efeito laxante (como cocaína que costuma ser misturada com laxante), o que os torna perigosos nesse sentido.

Aqueles que fornecem comida de baixa qualidade, estragada ou suja para a caridade ou pessoas religiosas (a mendicância é comum entre monges budistas na Ásia Oriental e no Sudeste Asiático).

Além daqueles que misturam proteína animal em alimentos veganos, carne suína a muçulmanos ou carne bovina a hindus, se tornam Shifen.

14. Shituo (食唾)

São espíritos famintos similares aos Shifen e aos Shitu.

Se alimentam de cuspe e dos escarros humanos, procuram desesperadamente por esse ‘alimento’.

Costuma seguir pessoas que têm o hábito de cuspir e escarrar em público. Em vida, os Shitou ofereceram comida impura a monges.

15. Shifeng (食風)

São espíritos famintos conhecidos como comedores de vento.

Perseguem comida e bebida desesperadamente, mas quando conseguem alcançar, tudo se desmancha como uma miragem e desaparece como o vento.

São atormentados ininterruptamente por essa ilusão (semelhante ao mito grego de Tântalo), uma punição aos que fizeram promessas vazias de doações para caridade.

16. Shi Houtan (食火炭)

Os gaki comedores de carvão são muito parecidos com os Shemoshelou, habitam cemitérios em busca de restos de corpos cremados para se alimentar, mas, em vez de carregar um instrumento de tortura na costa, são constantemente espancados pelos Rākṣasa (Rasetsu).

Renascem nesta condição os responsáveis pela administração de presídios ou de prisioneiros em geral que os privam comida.

17. Shiqi (食氣)

Essa espécie de espíritos famintos se alimenta do aroma (o termo traduzido é odor) de alimentos preparados por humanos para oferecer a deidades das mais diversas correntes religiosas em locais como pedreiras, árvores, encruzilhadas e nas margens de rios.

Se tornam Shiqi homens que não dividiram as melhores e mais saborosas comidas com suas esposas ou familiares.

18. Huolu (火爐)

São gaki parecidos com os Shiqi. Atraídos pela comida nas cozinhas de templos religiosos, esperam se alimentar dos restos misturados com carvão.

Aqueles que em vida roubaram comida de templos tenderão a se tornar Huolu, além de monges que fazem mau uso dos recursos dos templos e comem indevidamente aquilo que não lhes pertence.

19. Moloushen (魔羅身)

Os Moloushen são espíritos famintos que atacam os praticantes do Dharma, das boas práticas, que evitam o mal e aqueles que utilizam seu poder de concentração e capacidade intelectual para obter sabedoria, sejam eles budistas ou não.

Se alimentam da confusão nas práticas diárias dessas pessoas, tentam assustar os praticantes com sons assustadores pela noite e com pesadelos.

Esses gaki têm por objetivo corroer toda a comunidade espiritual, se regozijam no fracasso dos fiéis.

Se tornam Moloushen aqueles que em vida ensinaram falsas doutrinas.

20. Shuzhong Zhu (樹中住)

São a espécie mais peculiar entre aqueles que vivem no Reino dos Espíritos Famintos.

A tradução de Shuzhong Zhu é “habitantes das árvores”. Esses gaki roubaram madeira de templos budistas e renascem dentro de árvores.

Sofrem com o clima, insetos, infestações, outros animais, além de sofrerem as dores da queda de folhas, quebra de galhos e cortes infligidos na madeira;

21. Ci Ying’er Bian (伺嬰兒便)

Esses espíritos famintos são espíritos da natureza.

Os Ci Ying’er Bian são conhecidos por se alimentarem de fezes de crianças, seus alvos tendem ser filhos de pais negligentes, que não cuidam bem de seus filhos.

A tradição budista afirma, quando uma criança está chorando sem nenhuma razão aparente, é por que estão sendo atacadas por um Ci Ying’er Bian.

22. Shi Xiao’er (食小兒)

Seus alvos são crianças que ainda não conseguem andar.

São capazes de se transportar a uma distância de 12km imediatamente quando sentem o cheiro de sangue de uma mãe em trabalho de parto, seu objetivo é matar o recém-nascido.

Também atacam crianças em locais perigosos, em circunstâncias de insegurança ou tentam sequestrá-las (raramente conseguem).

Assim como os Ci Ying’er Bian, acredita-se que quando uma criança está chorando sem nenhuma razão aparente, é por que está sendo atacada por um Shi Xiao’er.

Se toram essa espécie de gaki charlatões que prometem a cura de doenças de outras pessoas por meio de orações, mas abusam delas a partir de sua posição.

23. Shiman (食鬘)

Os Shiman são espíritos famintos com superpoderes que se tornaram gaki por roubarem templos religiosos.

São atraídos por oferendas religiosas, contudo, quando tocam as oferendas, elas se tornam objetos de tortura que se predem ao corpo.

Os Shiman também têm o poder de aparecer no sonho das pessoas como uma espécie de deidade.

Portanto, quem sonha com um ser que se assemelha a uma deidade com objetos flamejantes pelo corpo, está sendo vítima de um ataque de um Shiman.

Seu objeto é corromper a mente das pessoas e fazê-las se tornarem devotas dele e de suas vontades.

24. Sijiao Dao (四交道)

Os espíritos famintos que habitam as encruzilhadas foram pessoas, que em vida roubaram viajantes cruzando regiões remotas do mundo.

Na cosmologia budista, as pessoas fazem oferendas para esses gaki para afastar doenças ou dificuldades no trabalho.

25. Shixue (食血)

Conhecidos como comedores de sangue, os Shixue também são espíritos famintos dotados de superpoderes.

São capazes de sentir (e mover-se instantaneamente) o cheiro de sangue a milhares de quilômetros de distância.

Costumam se alimentar do sacrifício de animais feito por pessoas, que buscam obter vantagens materiais no mundo (não confundir com a cosmologia das religiões de matriz africana que oferecem alimentos devidamente preparados e são consumidos pela comunidade de praticantes, e não sangue a suas deidades).

Não se limitam ao sangue oferecido nos sacrifícios e são capazes de influenciar pessoas a se automutilarem para alimentá-los, por isso são tão perigosos;

26. Shirou (食肉)

São os gaki que se alimentam da carne de animais mortos em oferendas. Embora se assemelhem aos Shixue, os Shirou não possuem poderes especiais.

Em vida foram açougueiros aproveitadores de seus clientes vendendo carne mais cara ou de baixa qualidade cobrando preços altos.

27. Shi Xiangyan (食香煙)

Os comedores de incenso são espíritos famintos que se alimentam da fumaça dos incensos dentro de templos religiosos, de oferendas em encruzilhadas.

Embora sejam considerados como espíritos da floresta por muitas pessoas, os Shi Xiangyan foram indivíduos, que em vida venderam incensos para oferenda a Buda e deidades do budismo de baixa qualidade pelo preço de incensos de alta qualidade;

28. Jixing (疾行)

São espíritos famintos superpoderosos que se alimentam de ações não virtuosas de qualquer natureza. Aqueles que têm ações impuras costumam ser acompanhadas dos Jixing.

Eles sentem essas inclinações a milhares de quilômetros de distância e se transportam essa mesma distância quase instantaneamente.

Além de se alimentar das más condutas no mundo material, também se alimentam das más condutas no sonho das pessoas.

Costumam habitar onde há abundância de corpos humanos, especialmente onde há epidemias.

Em vida, esses gaki foram pessoas que estimulavam a doação para os mais pobres, mas ficam com os bens para si.

29. Shentong (神通)

Considerados como os mais poderosos entre os espíritos famintos, possuem poderes extraordinários.

Se comparados a outros gaki, até são capazes de desfrutar de algum prazer, mas ainda assim são seres sofredores.

Habitam nas regiões mais profundas das montanhas inabitadas no meio do oceano ou em regiões montanhosas próximas da costa.

Vivem cercados de demônios que são atormentados por todos os tipos de dor e sofrimento, e são constantemente encarados (olhar fixo) por eles com seus olhares miseráveis.

É o destino daqueles que utilizaram seu poder para tomar (roubar) a propriedade alheia.

30. Bujing Xiangmo (不淨巷陌)

Habitantes das cidades e locais habitados por um número significativo de pessoas, os Bujing Xiangmo são encontrados pela noite em lugares sujos com urina, vômito e outras impurezas que servem de alimento a esses seres, principalmente onde há abusos de drogas lícitas ou ilícitas.

Renascem nesta condição aqueles que traem o Dharma, ou na tradição hindi, o Brahmacārin (ब्रह्मचारिन्), e que, assim como os Shifeng, não cumpriram suas promessas de fornecer comida a monges, pobres, pessoas doentes e os economicamente vulneráveis.

31. Shi Ren Jingqi (食人精氣)

Esses espíritos famintos são conhecidos por se alimentarem da energia vital das pessoas.

Suas vítimas são especialmente àqueles que sofrem com patologias psicológicas como depressão, ansiedade, e crise do pânico, por exemplo.

Estão sempre a espreita para infligir medo e aflição nas pessoas para sugar a vitalidade, são pacientes e podem esperar até por uma década para agirem (afinal, um dia no gakidō equivalem a 10 anos no reino dos seres humanos).

Se tornam Shin Ren Jingqi clérigos que perderam a fé e continuam em posição de poder.

32. Fan Luosha (梵羅剎)

Se assemelham aos Shi Ren Jingqi, porém, além de possuírem os olhos completamente pretos, em vez desses espíritos famintos se alimentarem da energia vital das pessoas, ficam a espreita de vítimas para matar ou enfeitiçar com objetivo de possuir seus corpos.

Também se tornam Fan Luosha líderes espirituais que perderam a fé, seguem com seus cargos de poder, mas se tornam cruéis e se aproveitam dos fiéis a partir de suas posições.

33. Wushi (無食)

Esse gaki é da classe que renasce em outro ponto do universo, mas não muito distante do planeta Terra.

Vagam em vão pelo cosmo em busca de água para aplacar o fogo que consome suas entranhas.

As fontes de água e alimentos, no entanto, são protegidas por guardiões que espancam os Wushi quando se aproximam desses locais.

Encontrarão esse destino aqueles que, em qualquer esfera da vida social, foram responsáveis pela morte de outras pessoas por inanição.

34. Shidu (食毒)

Conhecidos como comedores de veneno, essa classe de espíritos famintos habita locais montanhosos onde há grande população de leões ou tigres, além de serem atacados nos olhos por pássaros.

O ambiente é igualmente inóspito, extremamente quente ou frio. Ademais, a depender da estação, pode chover facas ou fogo.

Se alimentam de plantas venenosas que os “matam” lentamente. Após a morte por envenenamento são ressuscitados para sofrerem novamente.

Shidu é o destino daqueles que envenenam outras pessoas com o fim de roubá-las ou herdar seus bens.

35. Kuangye (曠野)

Os chamados fantasmas das florestas são condenados a uma existência vagando por frutas em meio uma floresta de chão pontiagudos.

Galhos e espinhos cortam sua pele, são atacados por animais e quando acham que chegaram ao lugar onde haverá comida, se dão conta de que foram ao lugar errado.

Esse ciclo se repete indefinidamente e é o destino de um tipo muito específico de pessoas, indivíduos que roubam ou desviam água do caminho de viajantes para deixá-los com sede e fracos, e assim, roubar com mais facilidade.

36. Quzou Geishi (趨走給使)

Os assistentes de Enma-O, rei do mundo dos mortos têm o rosto coberto com cabelos, orelhas pontudas e barrigas salientes.

Não deixam de ser espíritos famintos, contudo, são guardiões entre os mundos, responsáveis por levar a alma dos mortos e informar pecados para serem julgadas por Enma-O.

O texto não informa qual é a condição dos Quzou Geishi, isto é, se são humanos que cometeram crimes ou se são espíritos da natureza.

Em alguns templos budistas, o ritual Segaki é o mais importante do ano. Dedicado a alimentar espíritos em profundo sofrimento, os gaki, o Segaki é um gesto de compaixão para com todos os seres sencientes
Em alguns templos budistas, o ritual Segaki é o mais importante do ano. Dedicado a alimentar espíritos em profundo sofrimento, os gaki, o Segaki é um gesto de compaixão para com todos os seres sencientes

Desnecessário dizer que o contato com algum gaki é absolutamente não recomendado.

Monges e templos budistas realizam rituais específicos para aliviar o sofrimento desses seres, no Japão esse ritual se chama Segaki (施餓鬼), mas isso é assunto para outro artigo.

Chikushōdō (畜生道) – O reino dos animais no budismo

O Reino dos Animais é um reino que pode ser melhor do que os anteriores, mas é marcado pela falta de inteligência e servidão, muito associado aos animais criados pelo setor pecuário.

No reino dos animais, o Chikushōdō, os seres estão sujeitos as intemperes do meio ambiente, da lei da natureza e os caprichos dos seres humanos
No reino dos animais, o Chikushōdō, os seres estão sujeitos as intemperes do meio ambiente, da lei da natureza e os caprichos dos seres humanos

Chikushōdō é um reino de impossibilidade de iluminação, mas passível de progressão, isso por que os animais não são capazes de compreender intelectualmente o Dharma e são regidos apenas pelo instinto.

Ashuradō (阿修羅道) – O reino dos semideuses no budismo

O Reino dos Semideuses é um reino marcado pela raiva, inveja e guerras constantes entre os diferentes seres. São muito semelhantes aos humanos por sua dualidade espiritual.

O Ashuradō, o reino dos semideuses, é também chamado de reino dos titãs ou o reino do pandemônio, isso por que os diferentes Asura estão em constante guerra um contra os outros. São seres do tamanho do Godzilla, possuem grandes poderes e vivem milhares de anos, mas, assim como os seres humanos, são profundamente vinculados aos apegos, emoções e sentimentos negativos e uma forte dualidade espiritual
Ashuradō, o reino dos semideuses, é também chamado de reino dos titãs ou o reino do pandemônio, isso por que os diferentes Asura estão em constante guerra uns contra os outros. São seres do tamanho do Godzilla, possuem grandes poderes e vivem milhares de anos, mas, assim como os seres humanos, são profundamente vinculados aos apegos, emoções e sentimentos negativos com uma forte dualidade espiritual. Observe na ilustração que os Asura estão guerreando com os seres do reino celestial, o reno dos Deva

São formas de existência extremamente poderosas com o tamanho de um Godzilla, possuem poderes quase celestiais e se dividem em 8 diferentes legiões conhecida como Hachi Bushū, confira:

Hachi Bushū (八部衆)

Hachi Bushū, as Oito Legiões do reino dos semideuses (Tenbu, Ryū, Yasha, Kendatsuba, Asura, Karura, Kinnara e Magoraka), o Ashuradō
Hachi Bushū, as Oito Legiões do reino dos semideuses (Tenbu, Ryū, Yasha, Kendatsuba, Asura, Karura, Kinnara e Magoraka), o Ashuradō

1. Ten (天)

Também chamados de Tenbu (天部), são termos japoneses para o termo Deva (देव), traduzido como “Seres Celestiais”.

São seres que vivem por eras e ocupam a mais altas esferas de existência do sagrado e mitológico Monte Meru, onde há felicidade e esplendor.

Apesar de viverem milhares de anos, não estão livres da morte e nem da roda do Rokudō.

São seres que possuem grande grau de consciência, mas estão abaixo daqueles que se livraram do ciclo de morte renascimento como os Bosatsu (菩薩)termo japonês para Bodhisattva (बोधिसत्त्व), Rakan (羅漢)e os Nyorai (如来), os Budas.

Os Quatro Reis Celestiais, o Shitennō, pode ser representados em diferentes posições, e em muitos lugares (templos) Taishakuten aparece no meio dos Shitennō, servos de Taishakuten
Os Quatro Reis Celestiais, o Shitennō, pode ser representados em diferentes posições, e em muitos lugares (templos) Taishakuten aparece no meio dos Shitennō, servos de Taishakuten

Os Ten, ou Tenbu mais conhecidos no Japão são os Shitennō (四天王), os Quatro Reis Celestiais, os protetores de Buda e do budismo no mundo.

Contudo, estão no reino dos semi-deuses e estão hierarquicamente abaixo dos seres que habitam o Tendō. São eles:

Jikokuten (持國天) – primeiro rei celestial

Guardião da direção leste, Jikokuten é associado a primavera, ao nascer do Sol, a água, a força e as cores verde e azul.

Guardião da Nação, Guardião do Reino ou Protetor do mundo.

Tenbu do oriente mantém seus pés sobre um ou mais espíritos malignos, carrega em sua mão direita espada e mantém a mão esquerda em repouso.

Outras representações o mostram segurando um alaúde. Jikokuten comandou o exército dos Kinnara (緊那羅), músicos celestiais com corpo humano e cabeça de cavalo, e é responsável pelos vampiros demoníacos, especificamente os espíritos femininos.

Tamonten (多聞天) – segundo rei celestial

Guardião da direção norte também conhecido como Guerreiro Negro e Deus da Guerra.

Tamonten é o senhor do inverno, da terra e da riqueza (fruto de mil anos de austeridade desse Tenbu).

É o mais famoso entre o Shitennō no Japão. Protetor dos locais sagrados e dos locais onde os Budas passam seus ensinamentos aos outros seres, carregam na mão direita uma lança e na esquerda uma caixa de tesouro em forma de pagode para abençoar aqueles que fizeram por merecer.

Sempre representado perfeitamente em pé sobre um espírito demoníaco.

Pode ser retratado com a mão direita carregando o tesouro e a esquerda carregando a lança, e, em algumas ocasiões, no lugar da lança, Tamonten carrega um guarda-chuvas.

Também governa os Kinnara, os Yasha e os Rākṣasa (羅刹天), os demônios do Jigokudō, Reino dos Seres Infernos, que torturam e se alimentam da carne os mortos de outros reinos, isto é, os antigos corpos dos seres que neste reino renascem.

Zōchoten (増長天) – Terceiro rei celestial

Guardião do sul, Zōchoten é conhecido como O Lorde do Crescimento Espiritual, aquele que proporciona expansão de consciência aos seres com menor grau de consciência.

Está associado ao verão, ao elemento fogo, a prosperidade e a cor vermelha.

Também é responsável pelos seres que renascem no Gakidō, o Reino dos Espíritos Famintos.

Geralmente é representado com os pés sobre um espírito maligno, uma alabarda na mão direita e a mão esquerda em repouso no quadril ou segurando uma espada.

Kōmokuten (広目天) – quarto rei celestial

Guardião do oeste (ou do ocidente), é conhecido como Lorde da Visão Ilimitada, aquele que vê através da escuridão.

É associado ao outono, ao metal, ao despertar e a cor branca.

Kōmokuten é representando confortavelmente sobre um espírito maligno, suas armas costumam ser representada como um pincel na mão direita, um pergaminho na mão esquerda para escrever sutras e um olhar feroz.

Governa os Ryū e os Pūtanā (富單那), algumas criaturas do Gakidō causam febres e matam crianças, razão pela qual Kōmokuten é cultuado como protetor das gestantes e das mães.

2. Ryū ()

Essa é a legião das serpentes-dragões. Os Ryū, nome japonês para Naga (नाग), são seres mitológicos anteriores ao budismo e que foram incorporados já nos primeiros registros históricos do budismo na Índia.

Espíritos de água em forma humana

Nesses registros, os Ryū são descritos como espíritos da água com forma humana utilizando uma coroa de serpentes.

Graças ao rei dos Ryū, Nagaraja (नागराज) chega ao mundo a doutrina budista Mahayana (महायान), o “Grande Veículo” em tradução livre.

Nanda, o Rei dos Hachi Ryū-ō. Arte por Matthew Meyer
Nanda ou Nagajara, o Rei dos Hachi Ryū-ō. Arte por Matthew Meyer

Os Naga (Ryū) instruíram Nāgārjuna, fundador da escola Mahayana, a sua obra máxima: o Prajna Paramita (प्रज्ञापारमिता), também conhecido como Sutra do Coração ou Perfeição da Sabedoria.

Nesta legião, os seres que renascem no reino Ashuradō e se tornram Ryū vivem sob a autoridade dos Hachi Ryū-ō (“八龍王”, Oito Reis Dragões), são eles:

  1. Nanda (難陀): nome do budismo japonês para Nagajara, rei de todos os Ryū;
  2. Upananda (跋難陀): irmão caçula do rei Nanda;
  3. Shakara (沙羯羅): nome japonês para Sagara (सागर), Ryū das águas do oceano, também associada a linhagem dos reis solares;
  4. Vasuki (वासुकि): esse rei dos Ryū é a serpente que se mantém como um colar no pescoço de Shiva, o Destruidor dentro das culturas Híndi;
  5. Takshaka (तक्षक): é o único entre os Ryū com capacidade de voar, também são as que possuem os venenos mais potentes;
  6. Manasvin (मनस्विन्): Ryū apresentado no primeiro capítulo do Sutra da Lótus;
  7. Anavatapta (無熱池): Ryū do Lago Anavatapta, local considerado pela cosmologia budista como o centro do mundo;
  8. Uptala (優鉢羅): Ryū apresentado no primeiro capítulo do Sutra da Lótus. É também o nome de uma flor de cor vermelha, verde ou branca.

Essas serpentes-dragões, os Ryū, apesar de serem responsáveis pelo surgimento do Sutra do Coração no mundo dos seres humanos, um dos principais Dharma (palavra iluminada) do budismo, quiçá o maior, estão em constante guerra contra os Karuka e as Fênix.

Estatuetas dos Oito Reis Dragões, os Hachi Ryū-ō
Estatuetas dos Oito Reis Dragões, os Hachi Ryū-ō

A cultura dos Ryū no Japão é riquíssima, seja no folclore, na literatura, nas artes, nas religiões ou na cultura pop.

Dois Ryū ícones da cultura pop japonesa são Haku, o espírito do Rio Kohaku na animação A Viagem de Chihiro de Hayao Miyazaki, e Shenlong do Mangá Dragon Ball de Akira Toriyama.

3. Yasha (夜叉)

A legião dos Yasha é composta por guerreiros ferozes, são os protetores dos ensinamentos de Buda e guardiões dos espíritos da natureza.

Em verdade, os Yasha são espíritos da natureza.

Os Rasetsu (羅刹) que habitam o Jigokudō, o reino dos seres inferno, também são uma espécie de Yasha.

  • Rasetsu ou Rakshasa
Rasetsu ou Rakshasa

Existem três classes de Rasetsu, os que se assemelham aos Yasha, portanto seres benevolentes, os titãs que são inimigos dos Deva, e os demônios e ogros tenebrosos que comem carne humana.

Essa última classe de Rasetsu estão sob a autoridade de Enmaou (閻魔王), O Rei do Inferno, ou o Rei do Mundo dos Mortos.

A ele cabe julgar e encaminhar os mortos (todos os mortos de todos os reinos) para suas novas existências.

Os Yasha são guardiões do budismo e podem ser facilmente reconhecido pela roda do Dharma que em sua cabeça. Arte por Matthew Meyer
Os Yasha são guardiões do budismo, mais especificamente de Yakushi Nyorai, o Buda da Cura e da Medicina, e podem ser facilmente reconhecido pela roda do Dharma que em sua cabeça. Arte por Matthew Meyer

Os Yasha do Ashuradō são guardiões de Yakushi Nyorai (薬師如来), o Buda da Cura e da Medicina, e soldados do exército de Tamonten, Guardião do Norte.

Os mais notáveis Yasha são conhecidos como Jūni Shinshō (十二神将), Os Doze Generais Celestiais do Buda Yakushi

  1. Bikara Taishō (毘羯羅大将): também conhecido como Bikyara (びから). Associado a cor vermelha e ao signo Inoshishi (“亥”, Javali). Sua arma é uma Vajra (वज्र) simbolizada pelo diamante que representa a indestrutibilidade da essência espiritual, e o trovão que ilumina rapidamente a escuridão;
  2. Shotora Taishō (招杜羅大将): associado a cor azul e ao signo Inu (“戌”, Cachorro). É representado portando um Ōtsuchi (“大槌”, martelo longo ou martelo de guerra) ou uma espada;
  3. Shindara Taishō (真達羅大将): também conhecido como Kimnara (しんだら), é associado a cor amarela e ao signo Tori (“酉”, Galo). É representado com um Shakujō (錫杖), porta um cajado budista com 6 anéis representando os seis reinos de existência, isto é, o Chūin, e que emitem sons enquanto o portador se movimenta ou um Hossu (払子), uma vareta de bambu com fios de cabelo ou de cânhamo na extremidade (ambos objetos indicam a alta hierarquia a que o portador pertence);
  4. Makora Taishō (摩虎羅大将): associado a cor branca, ao signo Saru (“申”, Macaco) e armado com um machado, é conhecido também como Makura (まこら);
  5. Haira Taishō (波夷羅大将): associado ao signo Hitsuji (“未”, Ovelha) e a cor vermelha, é representado com arco e flechas ou um Ōtsuchi;
  6. Indara Taishō (因陀羅大将): armado com um bastão ou alabarda, é associado a cor vermelha, ao signo Uma (“午”, Cavalo) e também é conhecido como Indatsura (いんだら);
  7. Sanchira Taishō (珊底羅大将): armado com uma espada ou com um cifre de concha, é associado com a cor cinza e ao signo Hebi (“巳”, Serpente);
  8. Anira Taishō (頞儞羅大将): associado a cor vermelha e ao signo do Ryū (“辰”, Dragão). Armado com um tridente ou uma lança;
  9. Anchira Taishō (安底羅大将): carrega um Ōtsuchi ou Hossu, é associado ao signo Usagi (“卯”, Coelho) e a cor verde;
  10. Mekira Taishō (迷企羅大将): armado com uma Vajra, é associado a cor amarela e ao signo Tora (“寅”, Tigre);
  11. Basara Taishō (伐折羅大将): conhecido como Bajira (ばさら), esse general é o protetor da humanidade e permite a realização das aspirações dos indivíduos. É associado a cor branca e ao signo Ushi (“丑”, Boi), carrega consigo uma espada;
  12. Kubira Taishō (宮毘羅大将): armado com uma Vajra, esse general associado a cor amarela e ao signo Nezumi (“子”, Rato) é o líder dos Jūni Shinshō. No shintō é o kami Konpira (金比羅);
Jūni Shinshō, os Doze Generais Celestiais, guardiões do budismo e protetores de Buda Yakushi, uma réplica miniatura das estátuas reaks do templo Shin-Yakushi-ji, fundado em 747 pela Imperatriz Kōmyō na cidade de Nara
Jūni Shinshō, os Doze Generais Celestiais, guardiões do budismo e protetores de Buddha Yakushi, uma réplica miniatura das estátuas reaks do templo Shin-Yakushi-ji, fundado pela Imperatriz Kōmyō na cidade de Nara no ano 747

Jūni Shinshō, Os Doze Generais Celestiais, estão diretamente conectados com a astrologia japonesa, o Juunishi (十二支), aos 12 meses do ano, as 12 direções cósmicas e são considerados os guardiões das 12 horas de luz.

4. Kendatsuba (乾闥婆)

São os músicos celestiais da corte de Taishakuten, o comandante dos Shitennō que aparece representado sentado em um elefante no meio dos Quatro Guardiões.

Essa legião responde a seu superior, o Guardião do Leste, Jikokuten.

É comum ver imagens de Kendatsuba como figuras masculinas, no entanto, há uma parte ancestral e moderna da cosmologia e da arte retratando a parte feminina dos músicos celestiais Kendatsuba
É comum ver imagens de Kendatsuba como figuras masculinas, no entanto, há uma parte ancestral e moderna da cosmologia e da arte retratando a parte feminina dos músicos celestiais Kendatsuba

Protetores dos ensinamentos búdicos e das deidades da cura e da medicina, os Kendatsuba também podem aparecer em algumas representações rodeados dos doze animais da astrologia japonesa, o Juunishi.

Sendan Kendatsuba, o rei dos Kendatsuba é uma das manifestações de Exterminação do Mal no budismo
Sendan Kendatsuba, o rei dos Kendatsuba é uma das manifestações de Exterminação do Mal no budismo

Os Kendatsuba estão sob o comando do rei Sendan Kendatsuba (栴檀乾闥婆) que carrega em suas mãos um tridente.

Guardiões das crianças é figural central no ritual de budismo esotérico Dōjikyō Mandara (童子経曼荼羅) para proteger crianças de doenças ou de algum perigo.

5. Asura (阿修羅)

São seres que estão acima apenas dos seres humanos, os Asura os seres mais próximos psíquica, emocional e espiritualmente dos humanos.

Contudo, são poderosíssimos. São basicamente semi-deuses.

Em termos ocidentais, os Asura são similares aos titãs descritos na Teogonia de Hesíodo, clássico grego de meados do século VIII a.C.

Podem agir bem ou agir mal, mas são seres marcados pela fúria e pela disposição em brigar.

Os Asura normalmente são representados com três e seis braços, são seres de extraordinário poder e sempre dispostos a batalhar
Os Asura normalmente são representados com três e seis braços, são seres de extraordinário poder e sempre dispostos a batalhar

Estão em constante guerra com os Tenbu pela supremacia do reino Ashuradō.

São representados como um ser com três faces, todas expressando uma fúria guerreira e seis braços.

Ao chegar no Japão por volta do século VI através de Gojoseon (posteriormente Joseon e atual Coreia do sul e do norte), esses seres foram incorporados como guardiões do budismo apesar de sua natureza bélica e violenta.

As lendas sobre os Asura dizem que esses seres viviam entre os Devas no Reino Celestial dos 33, Trāyastriṃśa (त्रायस्त्रिंश), o segundo mais importante reino dos Devas governado por Śakra (शक्र), mais conhecido como Indra (इन्द्र.

Estátua de Asura protetor do budismo no templo Sanjūsangen-dō em Kyoto
Estátua de Asura protetor do budismo no templo Sanjūsangen-dō em Kyoto

Lenda de Asura

Quando Śakra tornou-se o rei dos Devas, os Asura comemoraram bebendo demasiadamente uma bebida chamada Gandapana, um vinho fortíssimo que foi proibido por Śakra.

Entorpecidos e fora de controle, Śakra os puniu banindo dos reinos celestiais no pico do Monte Meru e os arremessou para a base da montanha sagrada. Desde então, os Asura buscam vingança contra os Devas.

Os Asura (e todos os seres quem habitam o Ashuradō) que são guardiões dos ensinamentos de Buddha são facilmente identificados com a roda do Dharma em suas cabeças. Embora não seja o símbolo da iluminação, significa que o ser está no caminho correto da palavra iluminada
Os Asura (e todos os seres quem habitam o Ashuradō) que são guardiões dos ensinamentos de Buddha são facilmente identificados com a roda do Dharma em suas cabeças. Embora não seja o símbolo da iluminação, significa que o ser está no caminho correto da palavra iluminada

Existem diferenças entre os textos

Entender como funciona a hierarquia dessa legião não é fácil, isto por que os textos são muito antigos e estão espelhados pelas diferentes escolas de budismo, bem como nos próprios textos védicos híndi e nos textos páli.

Há três nomes principais na tradição hindi e do budismo tibetano para os reis na legião dos Asura.

As histórias e teses são gigantescas e, em alguma medida, contraditório, portanto, a descrição será sucinta e não entrará nas complexas minúcias de cada um. São eles:

Rāhu (राहु)

Embora seja chamado de Lorde dos AsuraRāhu é claramente um subordinado de Vemacitrin.

Na tradição hindi é um demônio a quem a imortalidade foi garantida por Brahmā (ब्रह्म) após milênios de austeridade de Rāhu nas montanhas do Himalaia, consequência de sua derrota para um dos filhos de Aditi (अदिति), deusa mãe-geradora dos Devas.

Associado aos eclipses, Rāhu sempre carrega esses elementos nas suas ilustrações. Nesta, o Sol está na mão superior esquerda de Rāhu e a Lua na mão superior direita
Associado aos eclipses, Rāhu sempre carrega esses elementos nas suas ilustrações. Nesta, o Sol está na mão superior esquerda de Rāhu e a Lua na mão superior direita

É associado aos eclipses, mais precisamente ao nodo norte da Lua (☊), e por consequência por terremotos, maremotos e outras catástrofes naturais.

Para o budismo, Rāhu é entendido como a escuridão, os obstáculos e os maus auspícios que dificultam o caminho da iluminação.

Vemacitrin (वेमचित्रिन्)

Também conhecido como Vepacitti, é considerado o mais proeminente Asura na guerra contra os Devas, superior de Rāhu (que foi em busca de seu auxílio quando confrontado por Buda).

É citado em alguns sutras budistas como o Saṁyutta Nikāya.

Vemacitrin, o rei do Asura em muitos documentos budistas e hindi
Vemacitrin, o rei do Asura em muitos documentos budistas e hindi

De acordo com a lenda, Vemacitrin liderou os Asura na guerra contra os Devas liderados por Śakra pelo controle de Trāyastriṃśa (Touriten).

Derrotados, Vemacitrin criou o reino Ashuradō. Tido como Rei dos AshuraVemacitrin é associado ao mal delirante e ao sentimento de vingança.

Jalandhara (जलन्धर)

JalandharaJalandharasua ou Jalandharasura Vadha é um Asura muito conhecido, especialmente na Índia.

É provavelmente o nome mais forte e que faz mais sentido receber o título de rei dos Asura.

Jalandhara, o filho demoníaco de Lorde Shiva, o Destruidor, pode ser confundido com Shiva, a diferença visual entre eles são os adornos utilizados, o mais expressivo de todos é a serpente (Naga) no pescoço de Lorde Shiva
Jalandhara, o filho demoníaco de Lorde Shiva, o Destruidor, pode ser confundido com Shiva, a diferença visual entre eles são os adornos utilizados, o mais expressivo de todos é a serpente (Naga) no pescoço de Lorde Shiva

De acordo com a mitologia, Jalandhara surgiu quando Shiva abriu seu terceiro olho em razão da fúria do Destruidor.

Conta a lenda também que Jalandhara derrotou todos os Devas, enfeitiçou Shiva pela música, mas eventualmente foi morto pelo próprio criador.

Karura (迦楼羅)

Os Karura ou Garuda (गरुड) são seres com aparência humanoides e cabeça de águia, são inimigos mortais dos Naga.

Associados a ave Fenix e ao elemento fogo são chamados no budismo e nas religiões hindi como Pássaros da Vida ou Águia Celestial.

As lendas sobre essa criatura magnífica são formidáveis. Suas asas douradas representam os raios de sol, os ventos e os ensinamentos dos Vedas ou o Dharma no budismo.

Possuem uma coroa com gemas mágicas e seu fogo sagrado purifica a mente contra os desejos materiais.

Karura (Garuda), associado ao fogo e a Fenix, são inimigos mortais dos Ryū (Naga). Só se pacificaram com intervenção de Buda
Karura (Garuda), associado ao fogo e a Fenix, são inimigos mortais dos Ryū (Naga). Só se pacificaram com intervenção de Buddha

A primeira aparição dos Karura acontece em uma das obras mais importantes hindi, o poema Mahābhārata (महाभारत) escrito entre os séculos IX e VIII a.C.

A autoria desse poema é atribuída a Krishna Dvapayana Vyasa, mais conhecido como Veda Vyasa.

Na referida obra, Karura surge como um ser singular que concorda com os Naga em roubar o pote de Amrita, o néctar divino da imortalidade de Indra para libertar a mãe, Vinatā (विनता), da escravidão que foi submetida por Kudrū (कद्रू), sua irmã e mãe dos Naga.

Karura devolvendo o pote de Amrita, néctar da imortalidade dos deuses a Indra
Karura devolvendo o pote de Amrita, néctar da imortalidade dos deuses a Indra

Para roubar o pote de Amrita para que os Nagas se alimentassem do néctar, Karura passou por terríveis provações e teve que derrotar muitos Devas.

Impressionado com sua determinação, Vishnu concede a imortalidade a Karura.

Karura concorda em se tornar o veículo de Vishnu para que esse pudesse transitar pelos céus. Karura libertou sua mãe e devolveu o pote de Amrita Indra com a condição de que Indra permitisse que Karura se alimentasse dos Naga.

Karura servindo como veículo para Lorde Vishnu, o Sustentador. Repare uma serpente naja em suas mãos, os Ryū (Naga) se assemelham a serpentes najas
Karura servindo como veículo para Lorde Vishnu, o Sustentador. Repare uma serpente naja em suas mãos, os Ryū (Naga) se assemelham a serpentes najas

Segundo a lenda, somente os Naga que carregassem um talismã budista ou tivessem se convertido ao budismo poderiam escapar dos Karura.

Estão vinculados a Fudō Myōō (不動明王), deidade patrona das artes marciais.

Karura está presente no Japão, mais especificamente no teatro Noh desde o século VIII.

Uma das figuras mais proeminentes dos Karura são os famosos Tengu, deidade do shintō e do budismo, conhecido como Caçador dos Vaidosos.

Tengu, o Karura mais proeminente do Japão. Estátua na entrada do santuário Izuna Gongen no Monte Takao, um dos locais mais sagrados de todo o Japão. Tengu é uma figura dúbia como todos os outros Asura, pode agir para o bem ou para o mal. Patrono das artes marciais, Tengu é conhecido por caçar, em especial, guerreiros vaidosos, mas não se limita a eles
Tengu, o Karura mais proeminente do Japão. Estátua na entrada do santuário Izuna Gongen no Monte Takao, um dos locais mais sagrados de todo o Japão. Tengu é uma figura dúbia como todos os outros Asura, podem agir para o bem ou para o mal. Patrono das artes marciais, Tengu é conhecido por caçar, em especial, guerreiros vaidosos, mas não se limita a eles

De acordo com o Mahāsamaya-sūtra (महासमय सुत्तं), Buda Amoghasiddhi (अमोघसिद्धि) protegeu os Nagas dos ataques dos Karura e selou a paz entre esses dos antigos inimigos.

Após a paz selada, Nagas e Karura tomaram refúgio em Buda.

Kinnara (緊那羅)

Semelhantes aos Kendatsuba, os Kinnara são músicos celestiais da corte de Kubera (कुबेर), rei dos Yasha, associado ao norte, ao elemento terra, as montanhas, e aos tesouros deste mundo, isto é, minerais e metais preciosos segundo a cosmologia hindi.

O culto aos Asura Kinnara e Kinnari são mais comuns nos países do sudeste asiático como Tailândia e Camboja. Estátuas do Wat Rong Khom (Templo Branco) na Tailândia
O culto aos Asura Kinnara (seres masculinos) e Kinnari (seres femininos) são mais comuns nos países do sudeste asiático como Tailândia e Camboja. Estátuas do Wat Rong Khom (Templo Branco) na Tailândia

E assim como os Kendatsuba, os Kinnara também servem na corte de Tamonten.

Podem ser representados com torso e cabeça humana, corpos de aves (na Indonésia) ou, em alguns casos, porém mais raros (nos primórdios hindi), representados com corpos de cavalo.

De acordo com os escritos sobre os Kinnara, além de tocarem magistralmente seus instrumentos (alguns textos dizem se tratar de uma Kinnari Veena, “किन्नरी वीणा”) possuem uma voz estonteante.

Nos países do sudeste asiático, em especial Indonésia e Tailândia, é comum companhias de teatro de dança executarem peças narrando a história de amor entre Kinnara e Kinnari
Nos países do sudeste asiático, em especial Indonésia e Tailândia, é comum companhias de teatro de dança executarem peças narrando a história de amor entre Kinnara e Kinnari

Os Kinnara são seres masculinos, contudo, há também as Kinnari, seus pares femininos.

Eles a representação dos amantes paradigmáticos, isto é, uma espécie de modelo a ser seguido.

Em um trecho do Mahabharata eles dizem um ao outro:

“Somos eternos amores e amantes. Nunca nos separaremos. Seremos eternamente esposa e marido, nunca nos tornaremos pais ou mães.

Não há descendentes em nosso colo. Somos amores e amantes sempre envolventes. Nós não permitimos uma terceira criatura entre nós demandando nossa afeição. Nossa vida é uma vida de perpétuo prazer.”

Apesar do trecho do Mahabharata acima, há algumas artes retratando Kinnara e Kinnari com um filho entre eles
Apesar do trecho do Mahabharata acima, há algumas artes retratando Kinnara e Kinnari com um filho entre eles

Esse trecho releva que esse não é exatamente um exemplo a ser seguido, o que não impede desse casal celestial ser uma das figuras sagradas mais adoradas na Tailândia.

São considerados os Ashura mais benevolentes e que sempre surgem para ajudar os humanos em momentos de perigo.

Magoraka (摩睺羅伽)

São os mais misteriosos seres entre os Hachi Bushu, há pouquíssimas informações sobre essa legião de Asura.

O pouco que se sabe é que faziam parte da cosmologia Brahmica e foram incorporados ao budismo posteriormente como uma espécie de dragão.

Na tradição chinesa, os Magoraka foram associados a serpentes que caminham sobre seus seios.

Diz-se também que são serpentes musicistas dos reinos celestiais, mas também representa o apego descontrolado, e por isso é representado como uma figura monstruosa.

Diferente dos Ryū que são associadas ou semelhantes a serpentes naja, Magoraka é associado ou semelhante a serpentes como a píton. Magoraka é responsável pelo movimento de rotação da Terra, e, consequentemente, também responsável pelos terremotos em seu trânsito nas profundezas do mundo
Diferente dos Ryū que são associadas ou semelhantes a serpentes naja, Magoraka é associado ou semelhante a serpentes como a píton. Magoraka é responsável pelo movimento de rotação da Terra, e, consequentemente, também responsável pelos terremotos em seu trânsito nas profundezas do mundo

O Sūtra Śariputraparipṛcchā indica que se tornam Magoraka aqueles que praticaram a generosidade e seguiram os ensinamentos do Dharma ao mesmo que tempo em que eram inclinados ao sentimento da ira.

Há também alguns relatos sobre serem serpentes subterrâneas responsáveis pela rotação da Terra e que ocasionalmente causam terremotos.

Mogoraka estão relacionados a cobras pítons, enquanto as Nāgas estão relacionados a serpentes najas.

Há duas representações artísticas possíveis para essa legião, uma é de uma serpente humanoide que anda rastejando exatamente como uma cobra, e outra de um humanoide com diversas cabeças de serpente como uma espécie de coroa sobre sua cabeça.

Nindō (人道) – O reino dos seres humanos do budismo

Você está aqui, caro leitor, ao menos por enquanto. Apesar do Ashuradō ser um reino superior ao dos seres humanos em escala hierárquica, afinal, é o reino dos semideuses, o Nindō é o reino mais importante entre os seis reinos do Samsara.

Não há lugar mais propício para atingir a iluminação em todo o Rokudō do que o Nindō.

É o reino mais equilibrado entre todos os outros.

O reino dos seres humanos é uma espécie de ponto zero, isto é, se ama e odeia na mesma intensidade, há 12 horas de luz e 12 horas de sombra, e assim por diante.

Segundo a doutrina budista, o reino dos humanos, o Nindō, é o reino onde a iluminação está mais próximo e possível aos seres. Infelizmente, a maioria esmagadora dos habitantes deste reino estão imersos nos apegos dos cinco sentidos
Segundo a doutrina budista, o reino dos humanos, o Nindō, é o reino onde a iluminação está mais próximo e possível aos seres. Infelizmente, a maioria esmagadora dos habitantes deste reino estão imersos nos apegos dos cinco sentidos

Isso permite um equilíbrio que não existe em nenhum outro lugar do Samsara.

Aqueles que estão no Jigokudō e no Gakidō estão ocupados demais com seu sofrimento, e os seres do Chikushōdō não são capazes de entender o Dharma.

Por sua vez, os que vivem no Ashuradō e no Tendō estão ocupados demais com as belezas da vida e com seus poderes.

Já o reino humano é o lugar onde o prazer e o sofrimento estão equilibrados, portanto, é mais fácil atingir a budeidade ou alcançar o Nirvana.

Infelizmente, assim como no reino Ashuraa maioria dos seres humanos vivem imersos no medo e na ignorância.

O apego material, a busca constante por riqueza, poder e satisfação dos apetites sexuais é amplamente disseminado como um valor a ser perseguido a todo custo.

Nenhum outro ser tem a iluminação tão ao seu alcance quanto os seres humanos.

Mesmo assim, as dificuldades impostas pelos cinco sentidos fazem a maioria das pessoas ignorarem a sua espiritualidade ou como dogmas na forma de religiões.

Isso significa, em outras palavras, supor que a espiritualidade é algo que vem de fora para dentro, como se Deus ou deuses fossem interferir em sua vida e transformá-la por ela se achar merecedora de uma intervenção divina que a beneficie em detrimento dos outros.

No livro O Bhagavad-gitā Como Ele É, há um trecho que, embora pareça ofensivo, retrata de forma muito eloquente a condição da maioria dos seres humanos habitantes do Nindō:

“Os mūdhas [tolos, burros] são aqueles que são grosseiramente tolos, como bestas de carga que trabalham muito arduamente. Eles querem gozar os frutos de seu trabalho por si mesmos, e não querem comparti-los com o Supremo.

O exemplo típico da besta de carga é o asno. Este animal humilde é posto para trabalhar duramente por seu patrão. O asno não sabe realmente para quem ele trabalha tão duramente dia e noite.

Ele se mantém satisfeito se enchem seu estômago com uma porção de capim, dormindo um pouco sob o temor de ser espancado por seu patrão, e satisfazendo seu apetite sexual com o risco de ser repetidamente coiceado por seu cônjuge.

O asno às vezes canta poesia e filosofia, mas este zurro apenas perturba os outros. Esta é a posição do trabalhador fruitivo tolo que não sabe para quem deve trabalhar. Ele não sabe que o karma (ação) destina-se ao yajna (sacrifício).

Cartoon de Zachary Kanin
Cartoon por Zachary Kanin

Geralmente, aqueles que trabalham duramente dia e noite para aliviar a carga dos deveres criados por eles mesmos, dizem que não têm tempo para ouvir sobre a imortalidade do ser vivo.

Para tais mūdhas os ganhos materiais, que são destrutíveis, são o máximo na vida – apesar do fato de que os mūdhas desfrutam somente de uma muito pequena fração do fruto do trabalho.

Às vezes passam dias e noites sem dormir em troca de ganho fruitivo, e ainda que tenham úlcera ou indigestão, se satisfazem com praticamente nenhuma comida: estão simplesmente absortos em trabalhos durante dia e noite para o benefício de patrões ilusórios.

Ignorantes de seu patrão verdadeiro, os trabalhadores tolos desperdiçam seu tempo valioso servindo à avareza.

Infortunadamente, eles nunca se rendem ao mestre supremo de todos os mestres, nem tiram um tempo para ouvir sobre Ele de parte das fontes adequadas.

O suíno que come excremento não se importa em aceitar docinhos feitos de açúcar e manteiga.

Similarmente o trabalhador tolo continuará infatigavelmente a ouvir sobre as notícias para os sentidos desfrutáveis a respeito da força mundana flutuante que move o mundo material.” Bhagavad-gitā Como Ele É

Tendō (天道) – O reino seres celestiais no budismo

O reino dos seres celestiais é, por assim dizer, o mais alto hierarquicamente nos seis reinos do Samsara.

Contudo, é potencialmente o mais perigoso e o que leva aos piores sofrimentos futuros em todo o Rokudō.

Por viverem em um número incontável de anos em mundo de deleite, esplendor e felicidade, os Deva são negligentes com o sofrimento de outros seres.

Não obstante, com seus poderes semelhantes aos dos deuses, se tornam extremamente vaidosos e soberbos.

Devas, o reino dos seres celestiais. Repare que os seres no canto inferior esquerdo no Ashuradō estão guerreando contra os seres celestiais. Além da explicação anterior, uma das principais razões dessa guerra é que a árvore com o fruto da imortalidade nasce no Ashuradō, mas os frutos só podem ser apreciados no reino dos Devas e somente aos seres celestiais
Devas, o reino dos seres celestiais. Repare que os seres no canto inferior esquerdo no Ashuradō estão guerreando contra os seres celestiais. Além da explicação anterior, uma das principais razões dessa guerra é que a árvore com o fruto da imortalidade nasce no Ashuradō, mas os frutos só podem ser apreciados no reino dos Devas e somente aos seres celestiais

Como consequência, quando morrem tendem a renascer em reinos miseráveis de profundo sofrimento, consequência de uma vida imersa na ignorância dos prazeres.

Como qualquer ser vivente no Samsara, os Ten estão sujeitos a morte e renascimento incontrolável dentro do Rokudō.

Os principais Tenbu, ou Deva do Tendō são conhecidos como Jūniten (十二天)as Deidades das 12 Direções Celestiais, os Protetores do Budismo Cumpridores da Doutrina.

Originários da cosmologia hindi foram incorporados ao budismo esotérico. São eles:

1. Bonten (梵天)

Na cosmologia hindi, Bonten é conhecido com Brahmā (ब्रह्मा), a deidade criadora do universo.

Chamado também de Dai Bontenno (大梵天主), o Grande Rei Celestial Brahmā possui quatro cabeças, cada uma voltada para uma direção cardial.

Contudo, é o guardião da direção celestial superior, isto é, a direção de cima. Bonten é a alma universal em contraste com a alma individual e possui quatro virtudes infinitas:

  1. Entregar a felicidade aos outros seres;
  2. Remover o sofrimento dos outros seres;
  3. Auxiliar aos outros seres a enxergar a verdade e se livrarem do sofrimento;
  4. Auxiliar aos outros seres a abandonarem seu apego ao amor e ao ódio, tornando-se assim imparcial em relação a eles.
Bonten, cultuado na cosmologia hindi como Lorde Brahmā, o Criador
Bonten, cultuado na cosmologia hindi como Lorde Brahmā, o Criador

Renascem no reino celestial de Bonten, isto é, no primeiro dos quatro paraísos meditativos que está situado acima do Monte Meru, aqueles que perseguem as quatro virtudes de Dai Bontenno.

Embora viva no paraíso meditativo acima do sagrado Monte Meru, é dito que Bonten é o responsável pelo Sahā (सहा), conceito do budismo Mahāyāna para o mundo mundano, um dos três reinos Triloka (त्रिलोक), um conceito muito mais complexo do que o Samsara.

2. Taishakuten (帝釈天)

Taishakuten é servido pelo Shitenno e habita o pico do Monte Seru, o Tōriten (忉利天) no budismo japonês.

Na cosmologia hindi, sua origem, Taishakuten é Indra, deidade da guerra e o Rei do Trāyastriṃśa, nome indiano para Tōriten.

Guardião da direção celestial leste, Taishakuten é o protetor tanto dos seres humanos como dos próprios Ten contra todos as formas do mal, além de ser capaz de trazer de volta a vida aqueles que tombam em batalha.

Taishakuten, cultuado na cosmologia hindi como Indra e descrito nos Vedas como Śakra.
Taishakuten, cultuado na cosmologia hindi como Indra e descrito nos Vedas como Śakra

Além de ser uma deidade associada a guerra, Taishakuten também é associado aos trovões e as tempestades.

Considerado como deidade da riqueza no Japão, pode ser, em alguma medida, comparado ao deus Zeus, deidade suprema do panteão grego.

Taishakuten é comumente representado em cima de um elefante, o que pode associá-lo também ao deus hindi, Ganesha (गणेश), conhecido no Japão como Kankiten (歓喜天), deidade conhecida por remover todos os obstáculos.

3. Suiten (水天)

Guardiã da direção celestial oeste, Suiten é uma deidade tanto no budismo quanto no shintō (“水神”, Suijin). Seu nome traduzido é “kami das águas” ou “deidade das águas”, é portanto, a Rainha dos Tenbu das águas.

Suiten, cultuada na cosmologia hindi como Varuna. Vale ressaltar que Varuna é uma deidade masculina na cultura hindi e se transformou em uma deidade feminina ao chegar no Japão
Suiten, cultuada na cosmologia hindi como Varuna. Vale ressaltar que Varuna é uma deidade masculina na cultura hindi e se transformou em uma deidade feminina ao chegar no Japão

Deusa da fertilidade, da maternidade, do parto facilitado e das crianças, Suiten também é associada a elementos mitológicos como serpentes, dragões e ao Kappa, além de seres que habitam rios, lagoas, e poços d’água como peixes, tartarugas e enguias.

Apesar da associação, esses símbolos não devem ser confundidos com a Tenbu Suiten que chegou ao Japão em meados do século VI com a introdução do budismo no país e que pertencia originalmente a cosmologia hindi como Varuna (वरुण).

Suiten representada na obra de Kawanabe Kyosai (1831 - 1889). Nesta obra prima, Suiten é reoresentada como Benten (弁天), deidade das águas e das artes, uma das diversas transformações que Suiten passou através da história
Suiten representada na obra de Kawanabe Kyosai (1831 – 1889). Nesta obra prima, Suiten é representada como Benten (弁天), deidade das águas e das artes, uma das diversas transformações que Suiten passou através da história

Curiosamente, Varuna que é a deidadeda consciência vasta e conservador do univerno, é uma divindade masculino, mas ao ser incorporado no budismo se torna uma deidade feminina, possivelmente associado à sua consortea deusa Varuni (वारुणी), deidade do vinho e deusa-mãe.

Já foi representada como defensora do budismo e do Japão com oito braços armados em meados do século VIII, por volta do século XIII se tornou uma bela deidade das águas, patrona das artes, literatura, da música e de todas as coisas fluidas.

Suiten é a única deidade feminina entre os Shichifukujin, Os Sete Deuses da Fortuna. Entre os sete, ela é cultuada como Benzaiten (弁才天), uma das deidades mais adoradas do Japão. Nesta belíssima estátua de aproximadamente 18,5 metros, Benzaiten carrega uma espada, mais uma transformação de Suiten, desta vez também como protetora do Japão
Suiten é a única deidade feminina entre os Shichifukujin, Os Sete Deuses da Fortuna. Entre os sete, ela é cultuada como Benzaiten (弁才天), uma das deidades mais adoradas do Japão. Nesta belíssima estátua de aproximadamente 18,5 metros, Benzaiten carrega uma espada, mais uma transformação de Suiten, desta vez também como protetora do Japão

Além disso, também foi sincretizada como uma dos Shichifukujin (七福神), os Sete Deuses da Fortuna.

Portanto, trata-se de uma das deidades cultuadas mais complexas no Japão que passou por várias transformações desde sua chegada ao país.

4. Bishamonten (毘沙門天)

Originário da cosmologia hindi como Vaiśravaṇa (वैश्रवण), Bishamonten é conhecido no Shitennō como Tamoten. Relembre que é Bishamonten, um dos Quatro Reis Celestiais.

Bishamonten, cultuado na cosmologia hindi como Vaiśravaṇa e membro do Shitennō
Bishamonten, cultuado na cosmologia hindi como Vaiśravaṇa e membro do Shitennō

5. Enmaten (焔魔天)

O Rei do Mundo dos Mortos e juiz do destino das almas que estão transitando entre os seis reinos do Rokudō para a sua próxima existência na roda do Samsara, Enmaten é o guardião da direção celestial sul.

Enmaten, cultuado na cosmologia hindi como Yama, o Rei do mundo dos mortos
Enmaten, cultuado na cosmologia hindi como Yama, o Rei do mundo dos mortos

Enmaten é, provavelmente, a deidade mais conhecida do Jūniten em todo o mundo graças a saga de mangá Dragon Ball (animação baseada no clássico chinês Jornada ao Oeste cujo a icônico personagem do romance é o Rei Macaco), era a personagem Enma Daioh.

Apesar de ser uma estrela internacional, Enmaten, adorado na cosmologia hindi como Yama (यम) ou Yama-raja (यमराज), exerce a função de Rei dos 10 Juízes do Mundo dos Mortos, o Jū-ō (十王), mas quando alguém morre é apresentado primeiro ao Rei Enmaten antes de passar pelos outros juízes (inclusive pelo próprio Enmaten novamente).

Enmaten (Enma Daioh) na animação Dragon Ball Z
Enmaten (Enma Daioh) na animação Dragon Ball Z

Processos de julgamento do pós-morte

De acordo com a escola Shingon de budismo, quando uma pessoa morre, ela precisa se apresentar a 13 deidades, os Jūsanbutsu (十三仏), as deidades do Jū-ō e outras 3 deidades budistas superiores a eles.

Anos para determinar o destino

Esse processo pode levar 33 anos e determinarão o destino dessa alma. O primeiro processo de julgamento dura sete semanas e o espírito vaga pelos locais que costumava frequentar em vida.

Julgamento de 1 juiz a cada semana

Durante essas sete semanas, a alma é julgada por um Juiz a cada semana, totalizando sete Juízes.

No 49º dia, a alma recebe seu julgamento karmico. É um dia importante de orações de seus familiares e monges budistas para obter a passagem mais favorável possível.

Enmaten (Enma-ō) revela em qual reino do Rokudō será o renascimento de um ser que morreu no Samsara e que continua no ciclo de morte e renascimento incontrolável
Enmaten (Enma-ō) revela em qual reino do Rokudō será o renascimento de um ser que morreu no Samsara e que continua no ciclo de morte e renascimento incontrolável

Juízes do mundo da morte

Com o destino selado pelos ventos cármicos, a alma é encaminhada para o novo reino que renascerá no 50º dia após a morte. Os sete primeiros Juízes do Mundo dos Mortos são:

  1. 7º Dia: Shinkō-ō (秦広王), a face irada de Fudō Myō-ō (不動明王) julga as vidas que a alma tirou em vida (por menor que seja a vida);
  2. 14º Dia: Shokō-ō (初江王), a face irada de Shaka Nyorai (釈迦如来) julga todos os roubos cometidos em vida;
  3. 21º Dia: Sōtei-ō (宋帝王), a face irada de Monju Bosatsu (文殊菩薩) julga a luxúria cometida em vida;
  4. 28º Dia: Gokan-ō (五官王), a face irada de Fugen Bosatsu (普賢菩薩) julga as mentiras contadas em vida;
  5. 35º Dia: Enma-ō (閻魔王), a face irada de Jizō Bosatsu (地蔵菩薩), juiz que determina em qual reino a alma renascerá na próxima vida;
  6. 42º Dia: Henjyō-ō (変成王), a face irada de Miroku Bosatsu (弥勒菩薩), juiz que determina as condições de renascimento na próxima vida;
  7. 49º Dia: Taizan-ō (泰山王), a face irada de Yakushi Nyorai (薬師如来), juiz que determina qual será o gênero que a alma terá na próxima vida.

Quinto dia, julgamento e local do Samsara, conforme karma

Durante o 5º julgamento, Enma-ō segura a roda do Samsara e mostra os seis reinos de sofrimento do Rokudō a alma julgada.

Enmaten julga, ou melhor, revela qual será o reino que a alma renascerá, de acordo com os os resultados das ações (karma) geradas em vida.

Jū-ō, os 10 Juízes do Mundo dos Mortos
Jū-ō, os 10 Juízes do Mundo dos Mortos

Condições de vida são definidas

Após o julgamento de Enma-ō no 35º dia, no próximo julgamento, 42º após a morte, Henjyō-ō decide as condições em que essa pessoa renascerá.

Ou seja, definirá no Nindō (o reino humano), por exemplo, se o indivíduo nascerá rico ou pobre ou que tipo de família nascerá.

Condições materiais, sociais, psicológicas e emocionais

O sexto juiz, Henjyō-ō, é quem determina quais serão as condições materiais, sociais, psicológicas e emocionais que essa alma terá no Nindō.

Gênero

O sétimo juiz, Taizan-ō definirá o gênero que a alma terá em seu novo mundo de existência.

  • 100º Dia: Byōdō-ō (平等王), a face irada de Kannon Bosatsu (観世音菩薩), juiz que determina se a alma possui apegos;
  • 1º Ano: Toshi-ō (都市王), a face irada de Seishi Bosatsu (勢至菩薩), juiz que permite uma segunda chance a almas que se perderam em seus apegos no caminho para o renascimento;
  • 3° Ano: Gotōtenrin-ō (五道転輪王), a face irada de Amida Nyorai (阿弥陀如来), juiz que oferece a última chance para almas ainda apegadas;
  • 7º Ano: Renjō-ō (れんじょうおう), a face irada de Ashuku Nyorai (阿閦如来);
  • 13º Ano: Bakku-ō (ばっくおう), a face irada de Dainichi Nyorai (大日如来);
  • 33º Ano: Jion-ō (じおんおう), a face irada de Kokūzō Bosatsu (虚空蔵菩薩);

Alma encaminhada para o renascimento

A partir do 50º dia, a alma é encaminhada para o renascimento. Se ela se perder em seus apegos no caminho para seu próximo renascimento, poderá ser julgado por outros seis juízes nos próximos 33 anos.

Se a alma não se perder durante o trajeto até sua próxima vida, receber suporte espiritual de seus familiares e monges durante os rituais funerários e seguir o Dharma, é possível até mesmo alterar o reino do Samsara determinado por Enmaten.

6. Katen (火天)

Guardião da direção celestial sudeste e senhor dos Deva de fogo, Katen é a deidade do elemento fogo e muito invocado nos rituais de budismo Shingon, o fogo e a fumaça produzida pela no ritual carregam mensagens dessa deidade de face serena aos humanos.

Katen, cultuado na cosmologia hindi como Agni
Katen, cultuado na cosmologia hindi como Agni

Originário da cosmologia hindi, Katen é o sincretismo budista com a deidade Agni (अग्नि) amplamente comentada nos Vedas e no Mahabharata.

É considerado um contato direto com os mundos superiores e inferiores (fogo da cremação), logo, a Enmaten

Protetor dos lares, o fogo de Katen (Agni) é associado desde a onipresença e onisciência.

Isto é, sabe todos os pensamentos e vê todas as ações importantes de uma pessoa, ao Sol, casamento, relâmpagos, cometas e até mesmo o fogo digestivo dos seres humanos.

7. Rasetsuten (羅刹天)

A direção celestial sudoeste é protegida pelos demônios que habitam o reino dos Ashura e também no Jigokudō. São os Raksa, demônios masculinos e as Rākṣasīs, demônios femininos. Relembre:

Rasetsuten, cultuado na cultura hindi como Raksa
Rasetsuten, cultuado na cultura hindi como Raksa

Apesar da submissão a Enmaten, Bishamonten é acompanhado por Yaksha Rasetsu. Além dele, as Jūrasetsu-nyo (十羅刹女), as 10 Irmãs Canibais, feiticeiras negras são filhas demoníacas de Kariteimo, protetora das crianças e deidade dos partos tranquilos, são elas:

Jūrasetsu-nyo, as 10 Irmãs Canibais (10 Rākṣasīs) com Kariteimo ao meio, mãe das Rākṣasīs
Jūrasetsu-nyo, as 10 Irmãs Canibais (10 Rākṣasīs) com Kariteimo ao meio, mãe das Rākṣasīs
  1. Ranba (藍婆): representada com a forma de Yaksa com vestimentas azuis, sua pele tem cor de carne. Carrega uma japamala na mão esquerda e uma vajra apoiada no ombro direito. Pode ser representada ajoelhada, segurando uma espada na mão direita e um sutra na esquerda;
  2. Biranpū (毘藍婆): vestida com roupas verdes, possui o roto branco, sua forma é como a Lua cheia e se relaciona com os oceanos. Acompanhada de um espelho, carrega e controla os ventos com a mão direita e carrega uma japamala na mão esquerda;
  3. Kyōshi (曲齒): com olhar humilde e de vestimentas azuis, possui dentes assustadores e é proeminente entre as demais irmãs. Se mantem ajoelhada em uma postura de meia flor de lótus e carrega um vasilhame com a fragrância de flores;
  4. Keshi (華齒): se assemelha a uma freira budista, veste roupas roxas e tem um olhar humilde, mas menos que Kyōshi e possui dentes claros como pétalas de flores. Carrega na mão direita um buquê de flores, e na esquerda um doce feito com flores;
  5. Kokushi (黑齒): seus dentes negros são intimidadores, por isso se veste com todas as cores sofisticadas para amenizar o terror de seus dentes. Se apresenta na forma de deusa sentada em posição meio lótus. Carrega um tridente na mão direita e um frasco na mão esquerda;
  6. Tahotsu (多髮): se apresenta em forma de criança, como lua cheia ou como uma Gandharva (गन्धर्व). Possui um bracelete de cobre no braço na mão direita, e esquerda a serve para dançar. É conhecida por seus cabelos trançados;
  7. Muensoku (無厭足): representada com vestimentas de tons brilhantes, essa gardiã é considerada como uma coroa de sutras. Carrega na mão esquerda e uma pétala de flor de lótus na mão direita;
  8. Jiyōraku (持瓔珞): suas vestimentas são douradas e sua cor é cor de carne, se apresenta com a aparência de Lakshimi (लक्ष्मी), deidade da riqueza, fortuna, beleza, poder, fertilidade e prosperidade, e por isso, diretamente associada a Māyā, a ilusão. É representada sentada em posição de lótus com as mãos cheias de adornos e pedras preciosas;
  9. Kōtai (皐帝): com a face chorosa, veste-se com as cores carmesim e detalhes azuis. É representada ajoelhada com um sutra na mão direita e um vajra de ponta única na mão esquerda;
  10. Datsu Issai Shūjō Shōki (奪一切衆生精氣): se apresenta na forma de esposa consorte de Brahma, a deusa Sarasvati (सरस्वती), ou esposa de Indra, a deusa Indrani. Tem face feroz, veste armadura, uma coroa de cabeça de cavalo, um vajra na mão direita e um tridente na mão esquerda.

Antes de ser convertida ao budismo, Kariteimo (訶梨帝母) foi Hārītī (हारिती), a mãe dos demônios comedores de crianças na cosmologia hindi.

Mãe de um número indeterminado de demônios, essa deidade maligna sequestrava crianças para alimentar seus filhos.

Ilustração do trecho de Sutra do Lótus em que Buddha oculta o caçula e predileto de Hārītī, a mãe dos demônios que alimentavam seus filhos com crianças que sequestrava, o que levou Hārītī ao desespero e ao despertar de consciência de seus atos
Ilustração do trecho de Sutra do Lótus em que Buddha oculta o caçula e predileto de Hārītī, a mãe dos demônios que alimentavam seus filhos com crianças que sequestrava, o que levou Hārītī ao desespero e ao despertar de consciência de seus atos

Um dia, Buda Sakyauni decidiu ensinar Hārītī a consequência de seus atos.

Buda então raptou o filho mais novo e preferido de Hārītī, a mãe dos demônios comedores de crianças entrou em desespero ao não encontrar o favorito.

Consciente do terror de seus atos, Hārītī se converteu ao budismo, transformou-se em Kariteimo, protetora das mães e das crianças.

Suas filhas, Jūrasetsu-nyo, tornaram-se guardiãs do Dharma segundo consta o Lotus Sūtra.

Após Hārītī ser convertida ao budismo tornou-se Kariteimo, guardiã das crianças, protetora dos partos e deidade da fertilidade
Após Hārītī ser convertida ao budismo tornou-se Kariteimo, guardiã das crianças, protetora dos partos e deidade da fertilidade

Há correntes de pensamento mais ligada à tradição da cosmologia hindi, nele, o Jūrasetsu-nyo são seres masculinos, ou seja, dez Rākṣa em vez de dez Rākṣasīs.

Elas também fazem parte da cosmologia shintō, ora como filhos do kami Susanoo ou como manifestação da kami Munasukihime como consta uma lenda da antiga província de Iwani, atual parte oeste da prefeitura de Shimane.

8. Ishanaten (伊舎那天)

Ishanaten é originário da cosmologia hindi onde é conhecido como Ishana (ईशान), uma das oito manifestações de Shiva (शिव)o Destruidor, que governa o Universo junto com Brahma, o Criador, e Vishnu, o Conservador.

Entre todos os seres que vivem na roda do Samsara, Ishanaten é um dos únicos que vivem nos seis reinos do Rokudō e o governa simultaneamente.

Com oito braços e três cabeças, pode ser representando segurando várias coisas objetos, entre eles, a roda do Samsara.

Ishanaten,cultuado na cosmologia hindi como Ishana, uma das oito manifestações de Lorde Shiva, o Destruidor
Ishanaten, cultuado na cosmologia hindi como Ishana, uma das oito manifestações de Lorde Shiva, o Destruidor

No Japão, Ishanaten é conhecido como Daijizaiten (大自在天,) e guardião da região celestial nordeste.

Em algumas escolas de budismo pode ser conhecido também como Mahākāla (महाकाल) porque Kāla é uma das manifestações de Shiva, ou Batō Kannon (馬頭観音).

Apesar dessa associação, no Japão, Mahākāla, ou melhor, Batō Kannon é a face irada da bodhisattva da compaixão Kannon (観音), Avalokiteśvara (अवलोकितस्वर), no budismo tibetano.

9. Fūten (風天)

Fūten é o guardião da direção celestial noroeste. Aparenta ser um ancião de cabelos brancos, armadura vermelha e um cedro de vento na mão direita.

Na cosmologia hindi foi o deus Vayu, e assim como Agni (Katen), deidade do fogo, Vayu é o Cinco Grandes Elementos.

Futen, cultuado na cosmologia hindi como Vayu
Fūten, cultuado na cosmologia hindi como Vayu

Fūten não é somente o deus do ar e controlador do vento, ele também governa a atmosfera e é uma das deidades mais presentes na vida de um ser humano, isso porque ele está diretamente vinculado aos chamados 5 Prānas ou 5 Vayu.

São eles: Prāna (“प्राण”, sopro de vida), Apāna (“अपना”, ar de limpeza, ar direcionado para fora), Vyāna (“व्यान”, movimento externo do ar), Udāna (“उदान”, ar vital que expulsa) e Samana (“समान”, ar de equilíbrio).

Como os 5 Prānas ou 5 Vayu agem no corpo humano
Como os 5 Prānas ou 5 Vayu agem no corpo humano

Consequentemente, esse Deva rege as 5 formas em que o elemento ar (vento) interage no corpo humano (corpo prânico).

A posição de mãos (mudra­Fūten Goshin Gassho – prática comum nas escolas de budismo esotérico – busca criar um anel de vento na ponta dos dedos.

Fujin

No Japão, Fūten é cultuado como Fūjin (風神)kami também dos ventos no shintō e irmão de Raijin (雷神), kami do trovão e das tempestades.

No shintō, Fūjin tem aspecto demoníaco com dois chifres e pele verde, carrega nos ombros um saco de vento com suas mãos de garras.

Fūjin (Fūten), deidade cultuada dentro do shintō
Fūjin (Fūten), deidade cultuada dentro do shintō

Na inestimável ilustração do ‘Sutra de Causas e Efeitos’, Kako Genzai Ingakyou (過去現在因果経), uma polêmica obra da era Heian, meados do século VIII, FūjinRaijin e uma série de demônios são retratados atendendo a um ensinamento dado por Buddhha Sakyamuni.

Nitten (日天) e Gatten (月天)

Protetor do budismo e do Sol, Nitten também é conhecido como bodhisattva da Radiante Luz Solar, Nikkō (日光) no Japão, irmão gêmeo do protetor do budismo e da Lua, o bodhisattva da Luz Radiante da Lua, Gakkō (月光), também cultuado como Gatten.

Os gêmeos Bodhisattva Nitten (Nikkō) e Gatten (Gakkō)
Os gêmeos Bodhisattva Nitten (Nikkō), guardião do Sol, e Gatten (Gakkō), guardião da Lua

Entre os Deva quem compõem o Jūniten, somente Nitten Gatten são seres livres do ciclo ininterrupto de morte e renascimentodo Samsara por seres Bodhisattvas.

Isto é, seres mais baixos na hierarquia entre aqueles que chegaram (regressaram) ao estado do Nirvana.

O guardião do Sol, Nitten, e o guardião da Lua, Gakkō, são servidores de Yakushi NyoraiBuddha da Medicina e da Cura e são apresentados majoritariamente com Nikkō a esquerda de Yakushi e Gakkō a sua direita.

Nitten carrega consigo o disco solar (Nichirin), usualmente na cor vermelho. Gatten carrega o disco lunar (Gachirin), um círculo preenchido que representa a lua cheia. Também são originários da cosmologia hindi.

Bodhisattva Nitten (Nikkō), guardião do Sol
Bodhisattva Nitten (Nikkō), guardião do Sol

Nikkō é cultuado como Surya (सूर्य), deidade do Sol e Governador dos Planetas, pai dos deuses Manu (मनु), progenitor da raça humano, Enmaten (Yama), o grande guerreiro Karna (कर्ण), protagonista do Mahābhārata, os gêmeos da medicina Ashvins (अश्विन्) e Sugriva (सुग्रीव)o Rei dos Macacos do clássico indiano Rāmāyaṇa (रामायण).

Nessa cosmologia, Nitten é associado ao conceito da luz que dispersa a escuridão, cura as doenças, traz o calor e ilumina o mundo, física e espiritualmente. Mais do que isso, o guardião do Sol é visto como a face visível de deus.

Muitos sabem que para os japoneses há um coelho na Lua (Gachirin) amassando arroz para mochi, mas poucos sabem que desde o reinado do Lendário Imperador Jimmu, o disco solar (Nichirin) tem um corvo de três patas.

Bodhisattva Nitten (Nikkō), Buddha Yakushi (Buda da Medicina) e Bodhisattva Gatten (Gakkō)
Bodhisattva Nitten (Nikkō), Buddha Yakushi (Buda da Medicina) e Bodhisattva Gatten (Gakkō)

Nissei Manishi, o corvo de três patas

Há um talismã no Japão específico para essa figura folclórica do corvo de três patas, Nissei Manishu (日精摩尼手) diretamente ligada ao Bodhisattva Nitten.

Muitas pessoas com disfunções oftalmológicas utilizam o taslimã para serem abençoadas por Nikkō e receberem a cura de seus males.

O guardião da Lua Gatten é cultuado no universo hindi como Chandra (चन्द्र), deus da Lua, da Noite e da Agricultura/Fertilidade.

Se por um lado Nitten ilumina o mundo, Gatten está diretamente relacionado às águas.

Bodhisattva Gatten (Gakkō), guardião da Lua
Bodhisattva Gatten (Gakkō), guardião da Lua

Como governante das águas, Chandra (Gakkō) governa parte considerável dos seres humanos, afinal, cerca de 70% do corpo humano é líquido, portanto, trata-se de uma deidade muito próxima a humanidade, além de governar a psique e as emoções (águas internas).

Talismã lunar Gessei Manishu

Senhor dos planetas, muitas pessoas no Japão adquirem o talismã do disco lunar (Gachirin) ligado a Gatten, Gessei Manishu (月精摩尼手), para livrarem-se da febre e resfriar o corpo, a mente e o espírito.

Jiten (地天)

Guardião da direção celestial inferior, isto é, direção de baixo e guardião da Terra, Jiten é, de forma simples, a contraparte do guardião da direção celestial superior, o Deva Brahmā. No panteão da cultura hindi, Jiten é cultuado como Pṛthivī (पृथ्वी).

Jiten, cultuado na cosmologia hindi como Pṛthivī
Jiten, cultuado na cosmologia hindi como Pṛthivī

Aqui, Terra deve ser entendida não somente como o planeta Terra ou o elemento terra.

Jiten é o Deva do mundo da matéria que pode se expressar desde as cordilheiras do Himalaia, até a partículas subatômicas.

Em sentido metafísico está ligado a solidez, a firmeza espiritual, prosperidade e fertilidade.

Na cosmologia hindi, Pṛthivī é uma deidade feminina ao ser adotada e sincretizada no budismo como Jiten, tornou-se um Deva masculino.

Os seis reinos do Rokudō é uma prisão, ainda que o ser esteja no reino dos Deva na roda do Samsara, morrerá como qualquer outro ser nos demais reinos e deverá renascer em um reino de profundo sofrimento.

Há seres e criaturas incríveis, e a ideia de renascer em um reino como o Ashuradō ou Deva pode ser muito atraente, mas é muito mais difícil, até mesmo improvável que o ser desperte nesses lugares.

A salvação ou o despertar do sono da ignorância do Samsara é individual e não vem de fora para dentro, somente o indivíduo pode enxergar a realidade por si
A salvação ou o despertar do sono da ignorância do Samsara é individual e não vem de fora para dentro, somente o indivíduo pode enxergar a realidade por si

Por mais estranho que pareça, entre todas as criaturas do Samsara, você está no melhor reino do Rokudō no que diz respeito ao que realmente importa, isto é, o espírito, a alma.

Não há dúvidas que a vida é mais aprazível nos reinos superiores.

Contudo, a postura espiritual correta que um ser humano pode ter é buscar pela iluminação, a budeidade, a transcendência para que, em vez de seguir a luz no fim do túnel, tornar-se luz para os transeuntes desse mesmo túnel.

*Nota de esclarecimento:

Assim como nas religiões monoteístas ocidentais (judaísmo, cristianismo e islã), o budismo pode ser machista (podem considerar as mulheres como seres inferiores e incapazes de renascer na Terra Pura dos Budas) e moralista.

Mudança é preceito

A virtude do budismo, e não necessariamente dos budistas, é que a mudança é um preceito deixado pelo Buda histórico.

De acordo com Buda Sakyamuni, se o que ele ensinou não for verdadeiro, ele deve ser abandonado e a verdade deverá ser abraçada em seu lugar.

Vale ressaltar que foi Ānanda (आनन्द), primo e discípulo fiel de Sakyamuni que o confrontou sobre a questão da iluminação espiritual das mulheres. Buda se deu conta de seu erro atrelado ao tempo histórico em que viveu, corrigiu-se e reconheceu que Ānanda estava correto.

Fonte:https://japaoreal.com/2023/04/16/samsara-um-guia-sobre-os-seis-reinos-do-rokudo/

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