CHE GUEVARA: O MAPA, O MITO E A CONTRADIÇÃO: REVOLUÇÃO CUBANA E ÚLTIMOS ANOS DE VIDA

  

Che Guevara: o mapa, o mito e a contradição

Ernesto Che Guevara foi uma das personalidades latino-americanas mais conhecidas do século XX. Idolatrado por uns, odiado por outros, criou em torno de si um mito carregado de contradições. Esta é a primeira parte da análise de sua carta astrológica, abrangendo a fase da adolescência e juventude, até os 24 anos.
Che na motocicleta

Cena do filme Diários da Motocicleta, que retrata a juventude de Che Guevara.

Este artigo faz parte de uma uma série de três, produzida por Dimitri Camiloto e publicada pela primeira vez em Constelar em 2007:

1 – Che Guevara, os primeiros anos
2 – Che Guevara, Fidel e a revolução cubana
3 – Os últimos anos de Che Guevara

Há mais de meio século morria Ernesto Guevara, o “Che”. Assassinado num povoado boliviano por boinas verdes, tinha então 39 anos de idade. O mito criado em torno de sua trajetória revolucionária é tão grande que inúmeras e contraditórias apropriações têm sido feitas por diversos segmentos desde então. Debrucemo-nos, pois, na carta astrológica desta que é uma das personalidades mais populares da América Latina.

Mapa Che Guevara

14.05.1928, 06:54:23AM GMT, Rosário (32ºS57′,060ºW40′)

O horóscopo causava certa confusão. Se o famoso guerrilheiro revolucionário houvesse nascido realmente em 14 de junho de 1928, como constava em sua certidão de nascimento, seria do signo de Gêmeos – e, além disso, sem nada de extraordinário. A astróloga, uma amiga da mãe de Che, refez seus cálculos em busca de algum erro, mas chegou aos mesmos resultados. O “Che” que aparecia em suas análises era uma personalidade sem brilho, dependente, que levara uma vida que nada tivera de especial. Só havia duas possibilidades: ou bem ela estava certa a respeito de Che ou, como astróloga, não valia nada.

Quando lhe mostraram o horóscopo, a mãe de Che deu uma risada. Revelou então um segredo que guardara zelosamente por mais de três décadas. Na verdade, seu filho famoso nascera um mês antes, em 14 de maio. Ele não era de Gêmeos coisa nenhuma, mas sim um taurino teimoso e decidido. A tapeação tinha sido necessária, explicou ela, porque estava grávida de três meses quando se casou com o pai de Che.

Para manter segredo, o casal resolveu passar a gravidez longe das famílias de ambos. Todavia, apesar de na certidão constar 14 de junho (eles ainda disseram aos familiares que o menino nascera prematuro), a mãe de Che revela que o horário que lá está registrado é o verdadeiro: 03:05AM (Hora Local).

O fato consta no livro de Jon Lee Anderson Che Guevara: A Revolutionary Life, New York: 1997, Grove Press, pp. 3 e 769. Em palestra no Rio de Janeiro em 2007, o astrólogo catalão Juan Estadella apresentou como dados de sua carta astrológica retificada 14.05.1928, 06:54:23AM GMT, Rosário, Argentina.

Che Sol sextil Marte

Sol em sextil com Marte na XII e em quadratura com Netuno na V: características fundamentais da personalidade e da trajetória de Che Guevara.

Che Guevara seria taurino com Ascendente Áries e Lua em Peixes. Tendo o Sol na casa II em sextilha com Marte em Peixes e quadratura com Netuno em Leão, constatamos duas características que o tornaram mundialmente famoso: foi um incansável guerrilheiro conspirador [sextil para Marte na casa XII] e, ao mesmo tempo, um utopista romântico que abriu mão não apenas de uma origem burguesa, mas também de uma confortável posição no governo cubano para morrer como mártir do socialismo [quadratura a Netuno na casa V].

Che Marte-Urano

A conjunção Marte-Urano, com Urano em quadratura estreita para o eixo Meio do Céu-Fundo do Céu e Sol e Vênus em Touro.

Che e o Ascendente Áries

Tendo Áries ascendendo, Che foi uma pessoa bastante impetuosa e cheia de coragem para lutar pelos seus ideais. Urano, numa estreita conjunção com o Ascendente, revela a dimensão de seu inconformismo e originalidade. Dotado de uma energia impressionante, Che era uma pessoa de atitudes rápidas e agressivas e, se a conjunção entre Marte [regente do mapa] e Urano reforça estas características, também indica que seu destemor foi um dos principais motivos da morte violenta ou, como aponta Juan Estadella, “precipitada”.

Isto é ainda mais evidente pelo fato de Urano estar em quadratura com o eixo Meio do Céu-Fundo do Céu, o que denota uma personalidade imprudente e cheia de exageros. A impetuosidade, aliada à sua persistência [Sol e Vênus em Touro], são indicativos de sua trajetória ímpar.

Rebelde, respondia aos pais e pessoas mais velhas, sendo que na escola era visto como desordeiro incorrigível. Adorava chocar os professores e levava muitas advertências. Seu pai nunca fora capaz de discipliná-lo.

Marte é um importante símbolo de referências paternas. Sobre Puerto Caraguatay, onde o pai de Che levou a mulher para passar o período de gravidez e criarem o menino nos primeiros anos de vida, escreveu:

Lá, na misteriosa Missiones, tudo atraía e prendia. Atraía como tudo que é perigoso e prendia como tudo que é apaixonante. Lá, nada era familiar – nem o solo, o clima, a vegetação, nem sua selva cheia de animais, e menos ainda seus habitantes. Do momento em que se pisava em suas margens, sentia-se que a segurança da vida de uma pessoa estava no facão ou no revólver.

Ora, Che possuía Marte, Urano e o Ascendente em conjunção, e certamente herdara este temperamento do pai.

Che Lua Júpiter Netuno

Lua, Júpiter e Netuno relacionam-se à indignação de Che com as desigualdades sociais.

A Lua em Peixes de Che Guevara aponta para sua humanidade e compaixão em relação aos pobres e desfavorecidos. Se a conjunção entre Marte e Urano, que envolve o Ascendente, diz respeito ao guerrilheiro que matou muitos inimigos em combate e condenou vários dos colaboradores do ditador Fulgêncio Batista à morte, sua Lua na casa XII, somada ao trígono partil entre Júpiter e Netuno, revelam a generosidade e a natureza caritativa do homem que é símbolo da justiça social.

Sobre as atribuições lunares relativas à natureza materna, a Lua de Che é coerente: sua mãe era religiosa e havia sido educada num colégio católico, era distante e solitária, mas inquisitiva e aparentemente desprovida de medo, além de boa nadadora que gostava de praticar o esporte diariamente [Lua em Peixes na casa XII: em especial o trígono para Plutão na casa IV).

As quadraturas que a Lua aplica a Saturno na casa IX e a Mercúrio na casa III, além da quadratura entre Sol e Netuno insinuam os problemas respiratórios de Che, que o acompanhariam a vida toda, desde os dois anos de idade quando, após sua mãe levá-lo para nadar junto a ela num dia frio e ventoso do inverno argentino, o menino teve uma crise de tosse durante a noite. O médico foi chamado e diagnosticou bronquite asmática, prescrevendo o tratamento normal. Entretanto, em vez de ceder, o ataque durou vários dias.

Seus pais buscaram conselhos médicos e tentaram em vão todos os tratamentos conhecidos, sem sucesso. A própria mãe de Che era altamente alérgica e também sofria de asma. Outros irmãos de Che, que nasceram depois, também desenvolveriam a doença.

Che criança

Guevara criança.

A asma, desde cedo, impôs a Che uma série de restrições alimentares e uma férrea disciplina que limitavam sua vida [Lua quadratura Saturno]. Seu pai conta que uma de suas primeiras frases balbuciadas foram “papai, a injeção”.

Mais tarde, incapaz de andar e confinado ao leito durante dias seguidos fazendo inalações, ele passava longas horas solitárias jogando xadrez com o pai ou lendo livros [Lua quadratura Mercúrio]. Com isto, tinha de faltar regularmente às aulas da escola (uma vez chegou a ausentar-se por três semanas), com sua mãe ocupando-se de sua educação, chegando a aprender francês com ela [Lua trígono Plutão na casa IV].

Seu pai era um empreendedor frustrado e seus negócios nunca davam certo [Sol quadratura Netuno]. Ele vivia tendo casos conjugais e as brigas com a mãe eram constantes [Lua na casa XII em quadratura para Saturno na IX].

A quadratura entre Lua e Saturno na casa IX, especificamente, serve de referência para a sua insatisfação e descontentamento em relação às condições das pessoas humildes, que vieram à tona principalmente quando Che saiu em viagem pelos países da América do Sul. Por outro lado, o trígono que a Lua forma com Plutão, na casa IV, fazia com que ele não se acomodasse na indignação e visse a si mesmo como um instrumento na redenção dos injustiçados.

Che mudava-se de residência com frequência e tinha disposição mais do que suficiente para suportar bravamente [trígono com Plutão] a vida na selva, escondido, deslocando-se incessantemente e pondo em prática técnicas de guerrilha [Lua e Marte na casa XII].

Che Lua-Plutão

Mercúrio está intimamente relacionado aos escritos de Che; Lua e Plutão dizem respeito à formação familiar.

O menino Che revelou-se desde cedo uma pessoa inteligente. Possuía Mercúrio e o Nodo Norte numa conjunção em Gêmeos, que envolve ainda a Parte da Fortuna. Estudou grande parte do ensino fundamental com sua mãe, dentro de casa, onde havia uma biblioteca de cerca de três mil volumes com obras de Marx, Engels e Lenin, com os quais se familiarizou em sua adolescência [novamente Lua trígono Plutão].

Por volta dos 12 ou 13 anos lia frequentemente. Sabe-se que leu Júlio Verne, Alexandre Dumas, Baudelaire, Neruda e Freud aos 15 anos [Mercúrio sextil exato com Urano e também com o Ascendente].

Che Saturno na 9

Vênus de Che, domiciliada, em sextilha exata com a Lua em Peixes e em trígono com o Meio do Céu. Saturno, regente do Meio do Céu, na casa IX.

Vênus em Touro em sextilha exata para a Lua em Peixes e em trígono com o Meio do Céu dá a medida de sua fama e popularidade, sendo que as mulheres, em geral, sempre o consideraram um homem bastante atraente. Já Saturno, em Sagitário e na casa IX, numa conjunção de órbita longa com o Nodo Sul, atesta seu caráter peregrino: mudou-se com menos de seis anos de idade para a região de Córdoba, numa estação de veraneio, em virtude de suas crises asmáticas. Lá morava perto de uma favela, tendo feito amizade com muitos meninos pobres.

Che deitadoAos 18, novamente com a família, radica-se em Buenos Aires, onde é dispensado do exército por inaptidão para o serviço militar pelos seus problemas com a asma. Uma ironia do destino, já que Che foi reconhecido justamente pela sua bravura e desempenho como combatente, tempos depois.

Aos 21 anos percorre 4.700 km pelo norte da Argentina, numa bicicleta motorizada que ele mesmo montou. É quando escreve seus primeiros pensamentos políticos. É que, apesar da conjunção entre Marte e Urano no Ascendente insinuar a pecha de andarilho louco por aventuras, Saturno na casa IX indica que suas viagens eram, para ele, coisa séria: Che preocupava-se profundamente com as condições de vida das populações que encontrava.

No ano seguinte, já cursando Medicina, inscreveu-se como enfermeiro na marinha mercante e viajou por vários países, inclusive o Brasil. É importante ressaltar que Saturno é o regente do Meio do Céu, indicador de sua projeção mundial, que foi costurada fora do país de origem [casa IX].

“Iniciação” numa Motocicleta

A despeito de suas viagens anteriores, em 04.01.1952 Che começa, junto ao amigo Alberto Granado, a grande peregrinação pela América do Sul que mudaria a sua vida. A bordo de uma motocicleta, Guevara percorreu mais de 10.000 km, cruzando 5 países em quase oito meses, e percebeu o subcontinente como uma única entidade econômica e cultural cujas desigualdades sociais somente poderiam ser erradicadas, em sua opinião, pelo marxismo.

Visitou minas de cobre, povoações indígenas e leprosários, interagindo sempre com a população, especialmente os mais humildes. Esta viagem dá prosseguimento a sua crescente politização diante da pobreza e da exploração dos povos da América Latina.

Che Júpiter conj Urano

Júpiter em conjunção a Urano e o Ascendente natais, Urano em conjunção a Plutão natal e Plutão em quadratura para o Sol natal: Che parte para a viagem que mudaria sua vida.

A data da partida é emblemática: Júpiter em Áries aplicava conjunção exata a Urano natal e também ao Ascendente. Uma viagem radical, posto que cruzou a América do Sul numa simples motocicleta. Como é sabido, esta jornada influiu decisivamente em seu engajamento revolucionário, com Júpiter ampliando filosoficamente sua rebeldia e inconformismo naturais de Urano conjunto ao Ascendente Áries.

Outro trânsito relevante envolvendo a viagem é a conjunção de Urano a Plutão natal em Câncer. Pode-se dizer que, ao cruzar o subcontinente, Che transforma sua própria noção de “pátria” [Plutão na casa IV], identificando-se instantaneamente com as populações que visitou [trígono de Urano para a Lua natal]. É possível perceber ainda, pela quadratura que Plutão formava com o Sol natal, o quanto a realidade de miséria e abandono que viu pelos países onde andou violentou a ele, transfigurando o papel que desempenharia a partir de então.

Na verdade, esta viagem épica de Che e Granado mereceria por si só uma análise mais concisa. De todo modo, há dois momentos que gostaria de mencionar. O primeiro é de ordem romântica, quando Che, já na região de Bahia Blanca, encontra-se com uma rica namorada que morava por lá. Chegou até mesmo a levar, na moto, um pequeno cão de presente para ela. Che encontra-se com ela em 13.01.1952.

Che encontra-se com sua namorada

Che encontra-se com sua namorada.

A partida de Buenos Aires se dera apenas 9 dias antes, mas os trânsitos de seu reencontro com “Chichina” são significativos. Vênus está sobre a conjunção entre Saturno e o Nodo Sul na casa IX, representando o compromisso que tinha assumido consigo mesmo em revê-la. Note que era uma moça que morava longe dele. Seu roteiro em direção à Patagônia incluía necessariamente este reencontro. A Lua, em Leão, aplicava trígono a Vênus de sua casa V [júbilo e romantismo]. Finalmente, o Sol aplicava conjunção exata ao Sol de Che. Ele deveria estar muito feliz mesmo.

1952: Che e a travessia do Amazonas

O outro momento que gostaria lembrar ocorre no dia 14.06.1952, quando ele pensava que se tratava de sua data verdadeira de nascimento. Che vive nesta noite fortes emoções, posto que estava passando um período como voluntário no leprosário de San Pedro, Peru. Lá ele não tinha receio de tocar os leprosos com as mãos, abraçá-los etc. Criou enorme intimidade com eles. Mas o preconceito estava presente no próprio leprosário, onde as freiras só tocavam nos doentes com luvas, e mantinham-nos separados do resto do pessoal na outra margem do Rio Amazonas, que naquela região peruana ainda não é tão largo, mas de dimensões e correntezas consideráveis.

Depois de um baile em sua comemoração promovido no lado “são” do leprosário, Che faz talvez o seu primeiro discurso político, pregando a unidade do povo sul-americano. Depois, ele resolve cometer uma verdadeira loucura: atravessa o rio a nado para poder comemorar a data junto aos leprosos.

Neste dia, havia uma conjunção entre Sol e Vênus em Gêmeos, muito propícia para se passar bons momentos com amigos e se divertir. Júpiter, sobre Vênus natal, amplifica sobremaneira o aspecto anterior, indicando que naquela época Che estava fazendo amigos num lugar distante, amigos esses de que nunca viria a se esquecer. Mais que isto: Che sentia necessidade de ser mais do que nunca generoso com eles. Todos eles.

Eis que depois de seu “discurso político”, o jovem estudante de medicina, numa atitude desvairada mas perfeitamente compreensível e muito nobre, resolve cruzar o rio a nado e ter com os doentes. Naquela noite, a Lua em Peixes aplicou conjunção exata a Marte natal, enchendo-o de afeto e compaixão para com os leprosos, dando o impulso emocional para que se superasse fisicamente e nadasse de uma margem à outra do Amazonas.

Che Leprosário peruano

Che tem uma festa de aniversário muito especial no leprosário peruano.

Ao retornar, em 31.07.1952, escreveu em seus “diários”.

Creemos, y después de este viaje más firmemente que antes, que la división de América en nacionalidades inciertas e ilusorias es completamente ficticia. Constituimos una sola raza mestiza, que desde México hasta el estrecho de Magallanes presenta notables similitudes etnográficas. El personaje que escribió estas notas murió al pisar de nuevo tierra argentina. El que las ordena y pule, “yo”, no soy yo; por lo menos no soy el mismo yo interior. Este vagar sin rumbo por nuestra “Mayúscula América” me ha cambiado más de lo que creí.

Quando analisamos os trânsitos de seu retorno à Argentina, vemos o real impacto de todo aquele périplo sobre ele. Júpiter estava sobre o Sol, sugerindo justamente a ampliação de horizontes e experiências que uma jornada deste tipo proporciona.

Che transformado

Che voltou da viagem transformado, não há dúvida.

Os aspectos tensos, porém, são perturbadores: Lua e Marte, em Escorpião, enchiam-no de indignação e revolta; o Nodo Norte, na casa XI, apontava como única direção o caminho da irmandade com os povos latino-americanos; finalmente, as quadraturas de Mercúrio, Vênus e Plutão ao Sol natal revelam a intensidade de sua metamorfose pessoal durante a viagem. Che já era realmente um outro que não aquele de antes; sua origem aristocrática no país mais europeu da América do Sul era um passado distante do qual não tinha nostalgia alguma.

Che Guevara, Fidel e a Revolução

O mito em torno da personalidade de Che Guevara foi construído pouco a pouco, a partir de 1953. A partir daí, sua história pessoal estará cada vez mais entrelaçada com a de Fidel Castro e a revolução cubana.
Che e Fidel Castro

Che e Fidel Castro.

Este artigo é o segundo de uma uma série de três, produzida por Dimitri Camiloto e publicada pela primeira vez em Constelar em 2007:

1 – Che Guevara, os primeiros anos
2 – Che Guevara, o mapa e o mito (este)
3 – Os últimos anos de Che Guevara

A aproximação com os Irmãos Castro

Ao concluir o curso de Medicina, Júpiter estava em destaque no mapa de Che. Paralelamente, o ciclo Saturno-Netuno (referência para movimentos socialistas) opunha-se a Júpiter Natal, indicando que o alergista seria cooptado pelo engajamento revolucionário.

Vemos, neste dia, a conjunção exata de Júpiter ao Sol natal, além das conjunções do Sol e de Vênus a Júpiter natal. Aspectos marcantes, em se tratando de uma graduação acadêmica. Por outro lado, gradualmente, a política será cada vez mais o principal objetivo de Che: o jovem que iniciara o curso de medicina já não existia mais. Saturno e Netuno, em Libra, aplicavam oposições a Júpiter.

Paralelamente, naquele mesmo ano, tinha início o movimento revolucionário cubano no qual ele viria a se engajar. Se a conjunção entre Saturno e Netuno em Leão, 36 anos antes, dera ao mundo a Revolução Russa, o novo ciclo, em Libra, conduziria um pequeno grupo à outra revolução vitoriosa, anos depois. Urano seguia sobre Plutão natal.

Che Formatura medicina

Em 11.04.1953, Che Guevara finalmente conclui o curso de Medicina.

Em dezembro do mesmo ano Che Guevara parte para a Guatemala e, como podemos perceber pela rapidez com que novamente deixa a Argentina (para voltar quase oito anos depois, numa viagem-relâmpago de três horas), sua “pátria” já era realmente “outra”. Naquele país centro-americano, Che presencia a luta do presidente recém-eleito, que liderava um governo de cunho popular e tentava realizar reformas de base tais como eliminar o latifúndio, diminuir as desigualdades sociais e – um dos principais objetivos – garantir o lugar da mulher no mercado de trabalho.

O governo norte-americano opunha-se ao presidente guatemalteco e, através da CIA, coordenou várias ações, incluindo o apoio a grupos paramilitares. As experiências na Guatemala são importantes na formação de sua consciência política. Lá, Che Guevara passa a definir a si mesmo como um “revolucionário” e posiciona-se contra o imperialismo americano. Nesse meio tempo, Che conhece Hilda Gadea, com quem viria a se casar e de cuja união nasceria sua primeira filha, Hildita.

1954: um encontro no México

Em 1954, já no México e através de um amigo das lutas na Guatemala, Che Guevara conhece Raúl Castro, que no ano seguinte o apresentaria a seu irmão mais velho, Fidel Castro, que liderava o movimento guerrilheiro 26 de Julho [M-26], cujo propósito era depor o ditador Fulgêncio Batista. Fidel havia sido anistiado pelo governo cubano e retornava ao México, onde conheceu Che na noite de 08.07.1955.

Numa conversa que varou a madrugada, Che convenceu-se de que Fidel era o líder revolucionário que vinha procurando, e imediatamente filiou-se ao M-26, ingressando no corpo médico do grupo guerrilheiro. Na mesma época, apesar de seu relacionamento com Hilda haver terminado, ela conta a ele que estava grávida de um filho seu e Che propõe então o casamento. A cerimônia realiza-se em 18.08.1955 e Hildita, filha do casal, nasce em 15.02.1956.

Che e Fidel Castro são apresentados um ao outro

Che e Fidel Castro são apresentados um ao outro.

O encontro com Fidel Castro aponta para importantes considerações astrológicas. A noite que levou à parceria entre os dois líderes revolucionários apresentava uma estreita conjunção entre Marte e Urano (um aspecto marcante na carta de Che).

O Sol passava sobre Plutão natal, estimulando sua natureza combativa. Finalmente, Plutão em trânsito chegava à conjunção com Netuno, colocando sua combatividade a serviço de suas utopias revolucionárias. Ali, Che convencera-se de que Fidel era, como dito acima, “o líder que vinha procurando” para dar vazão ao ímpeto na luta contra as injustiças sociais que tanto o indignavam [Sol quadratura com Netuno no mapa natal]. É o próprio Che quem relata:

Conheci Fidel em uma daquelas noites mexicanas e recordo que nossa primeira discussão versou sobre a política internacional. Conversamos toda a noite e, ao amanhecer, já era médico de sua futura expedição.

A conjunção de Plutão a Netuno natal representou, de fato, um divisor de águas na vida de Che Guevara. Tendo recebido a notícia de que a ex-namorada engravidara, Che decide se casar poucas semanas depois de seu “casamento revolucionário” com Castro.

Casamento Che

O dia do casamento de Che, em 18.08.1955.

Plutão estava em conjunção exata com Netuno na casa V, seguido de muito perto pelo Sol, por Vênus e por Marte no dia de seu casamento. Não há como negar que a iminência da paternidade deve ter mexido muito com o revolucionário argentino e, somando isto a excitação em unir-se a Fidel num projeto que sempre fora seu maior sonho [Netuno], ele provavelmente vivia dias muito intensos.

A las siete de la tarde del 15 de febrero del 1956 nace Hilda Beatriz, hija del matrimonio Guevara [Ciudad de Mexico].

Che, primeira filha

Os trânsitos envolvendo o nascimento da primeira filha de Che.

Quando sua primeira filha vem ao mundo, uma conjunção Lua-Vênus estava sobre Urano e Ascendente natais. Outra conjunção exata entre Júpiter e Plutão estava precisamente sobre Netuno natal, na casa V. Para o nascimento de Hildita, tem-se o Ascendente no início de Virgem o qual, numa eventual retificação, poderia cair no final de Leão, sobre a conjunção entre Júpiter e Plutão.

Certamente este nascimento encheu-o de alegrias, mas ele também deveria saber que o papel de pai entrava em contradição com os rumos que sua vida tomava a partir dali, com a participação no movimento conspiratório dos Castro [Júpiter e Plutão em quadratura com o Sol natal de Che e em oposição para o Sol em Aquário de sua filha].

Che e sua primeira filha, Hildita

Che e sua primeira filha, Hildita.

Anos depois, ao partir para a fatídica missão na Bolívia, Che chegou a visitar suas filhas usando um disfarce, e elas não o reconheceram. Ele apresentou-se a elas como o “tio Ramón”. Nesta, que seria a sua última viagem, Che deixou uma carta de despedida a seus filhos, em que diz: “Seu pai é um homem que age como pensa e, é claro, foi leal com suas convicções…”

Tinha então 5 filhos, um do seu casamento com Hilda Gadea e quatro com Aleida March, professora e sua companheira na Sierra de Escambray, com quem se casou pela segunda vez. Aos pais, escreveu: “Muitos me julgarão aventureiro, e o sou; só que de um tipo diferente, dos que arriscam a pele para defender suas verdades”.

Che progredido 1955

Mapa progredido sobre o mapa de Che em 18.08.1955.

Voltando a seu primeiro casamento, é importante ressaltar ainda que o Ascendente progredido fazia trígono exato com Netuno natal, na casa V e, a Lua, retornava à sua posição de origem.

A Luta Armada

Che guevara foto estilizada

Em novembro de 1956, o iate Granma zarpou do porto mexicano de Tuxpán rumo a uma insurreição contra a ditadura de Fulgêncio Batista. Che Guevara era um dos únicos quatro não-cubanos a bordo, junto com mais com 78 jovens. “Valia à pena morrer numa praia estrangeira por um ideal puro”, decidiu Che.

Para Fidel, Guevara foi uma das figuras mais surpreendentes da façanha cubana, como também seu primeiro e grande cronista [Mercúrio em conjunção ao Nodo Norte em Gêmeos]. “Um dos mais admirados, dos mais amados e, sem dúvida alguma, o mais extraordinário de nossos companheiros de Revolução”. E, ironicamente, Che havia sido declarado inapto para o serviço militar pelo Exército argentino.

Granma

O iate Granma.

Apesar de suas crises asmáticas, que nunca o abandonaram, Che foi esportista. Ainda na Argentina, ficou conhecido como um grande jogador de rúgbi, de estilo bastante agressivo, além de haver praticado natação, futebol, tênis, golfe, pingue-pongue, basquete, beisebol, patinação, pesca, hipismo, tiro, alpinismo e remo, chegando ainda a conquistar uma marca de 2,80m no salto com vara, em uma edição dos Jogos Universitários argentinos. No rúgbi, era chamado de “o furioso”.

Ora, se pelo mapa de Che Guevara podemos identificar elementos que indicam problemas asmáticos e respiratórios, por outro lado existem aspectos que asseguram a possibilidade de bom desempenho físico e atlético, como se viu ao longo da guerrilha cubana (e das demais em que se engajou). Não há como negar que ele possuía “fibra” e “raça”. Ao participar do treinamento militar para a missão em Cuba, foi considerado o aluno mais empenhado e com o melhor aproveitamento pelo instrutor, o Coronel Alberto Bayo.

A madrugada da partida de Che para Cuba.

A madrugada da partida de Che para Cuba.

Na partida para Cuba, deixaram Tuxpan (Veracruz, México) em 25.11.1956, às duas da madrugada. Uma conjunção entre Sol, Mercúrio e Saturno, em sua casa IX, e trígonos de Júpiter e o Ascendente para o Sol natal, indicavam aquela que seria a viagem mais importante de sua vida. Marte aplicava uma conjunção aproximativa para sua posição de origem e Che preparava-se para a luta. É nesta época, em seu convívio com os rebeldes cubanos, que passou a ser apelidado de “Che” pelo hábito, tipicamente platino, de recorrer a essa expressão. Urano, recém-ingressado na casa V, revelava que, a partir dali, nasceria um mito.

Ida para Cuba

Ida para Cuba.

Na ida para Cuba, a Lua progredida chega a Marte natal numa conjunção exata em graus e minutos; Mercúrio indica a mudança de residência (que, em princípio, não seria fixa) e Vênus e Saturno progredidos ameaçavam o casamento com Hilda.

Quando observamos o mapa progredido de Che Guevara ao zarpar para Cuba, nota-se a conjunção da Lua para Marte natal, indicando que a hora da luta chegara. Mercúrio, progredido na casa IV, está em trígono com a Lua de origem, simbolizando uma nova pátria e residência. Finalmente, Vênus e Saturno progredidos estavam em oposição, revelando que aquela viagem representava, de fato, o fim da linha para seu casamento.

Roteiro invasão Cuba

Roteiro da saída do México rumo ao poder.

1956: o desembarque em Cuba

No dia 02.12.1956, Che, Fidel e os demais rebeldes desembarcam no sudeste de Cuba, sendo logo atacados na praia pelas forças de Batista. É durante este confronto que Che, após ser duramente atacado pelos rebeldes, larga a maleta médica por uma caixa de munição de um companheiro abatido, num episódio que tempos depois ele iria definir como o marco divisor na sua transição de doutor a revolucionário.

Trânsitos da chegada de Che a Cuba.

Trânsitos da chegada de Che a Cuba.

Marte estava em conjunção exata com sua posição natal: ali começava de fato a saga do revolucionário Che, já em combate, e colocando o guerrilheiro em primeiro plano sobre a condição de médico. A Lua acompanha Sol, Mercúrio e Saturno na casa IX. Netuno, na cúspide da casa VIII, revela que chegara o momento de suas utopias revolucionárias serem colocadas em prática por meio de uma investida conspiratória. No confronto, apenas 12 homens escaparam, rechaçados por forças leais ao governo e obrigados a refugiarem-se nas montanhas de Sierra Maestra. Durante mais de dois anos, eles enfrentariam as tropas de Batista.

É durante a guerrilha de Sierra Maestra que Che Guevara vive seu primeiro – e único – retorno de Saturno. Nas difíceis condições que uma empreitada deste tipo impõe, ele vai aos poucos assumindo a condição de líder, passando a ser seguido pelos demais rebeldes. Em plena luta, criou o jornal El Cubano Libre, para transmitir informações da guerrilha e as ideias que a animavam.

Grande escritor, Che Guevara era um repórter do seu tempo; em seus escritos, mostra a saga dos guerrilheiros cubanos e discute teorias políticas, econômicas e sociais com a maior objetividade possível, para que pudesse ser entendido por qualquer de seus companheiros de guerrilha ou simples trabalhador. Criou ainda a Radio Rebelde, para divulgar informações ao povo cubano e se comunicar com o crescente número de colunas rebeldes em toda Cuba.

Inspirado pela atuação da CIA na Guatemala, as primeiras transmissões reportavam como havia sido a tomada de Santa Clara por sua coluna no ano novo de 1958, desmentindo as versões oficiais de que teria morrido durante os combates. A rádio é, ainda hoje, uma importante instituição cubana. Assim, sua fama não apenas espalha-se pela ilha cubana, mas começa também a ganhar mundo [Saturno, regente do Meio do Céu, na casa IX].

Cartaz criticando o Che.

“El Comandante” é criticado por execuções sem julgamento prévio.

Os rebeldes lentamente se fortalecem, aumentando seu armamento e angariando apoio e o recrutamento de muitos camponeses, intelectuais e trabalhadores urbanos. Che passa a ser chamado de “comandante” da 2ª Coluna da guerrilha e, em sua nova função, revela-se um disciplinador extremo, cujos métodos severos se tornaram notórios. Desertores eram punidos drasticamente e o novo comandante mandava esquadrões à mata para caçá-los por haverem traído a Revolução ao tentarem escapar. Depois de uma execução, Che escreveu que “não estava muito convencido da honestidade da medida, apesar dela ter servido como exemplo”.

Because Guevara was a doctor, one of his friends once asked how he could work in such a position. Guevara’s answer was like from Western movies: “Look, in this thing you have to kill before they kill you.”

Noutra ocasião, mandou executar um desertor que se aproveitara da situação para aterrorizar vilarejos ao redor de Sierra Maestra. Depois de o traidor ter recebido três tiros, ele escreveu que “aqueles que tiram vantagens da atmosfera reinante para cometer crimes, infelizmente, não constituem uma pequena exceção”.

Após a tomada do poder, execuções de membros da ditadura de Fulgêncio Batista, sem julgamento e com a anuência de Che, tornaram-se frequentes e servem de munição para os que questionam seus métodos. Os rebeldes lentamente se fortalecem, aumentando seu armamento e angariando apoio e o recrutamento de muitos camponeses, intelectuais e trabalhadores urbanos.

Com o passar dos meses, os 12 rebeldes iniciais ultrapassam a casa das duas centenas. Mas a diferença para o número das forças de Fulgêncio Batista era imensa, já que este dispunha de algo entre 30.000 e 40.000 soldados e policiais. Paralelamente, a selvagem repressão desencadeada por Batista aumentou sua impopularidade a tal ponto que, em 14.03.1958, os Estados Unidos acabaram suspendendo a venda de armas para o ditador.

A força aérea cubana sentiu o baque, já que não podia fazer a manutenção de seus aviões sem o apoio norte-americano. É sabido ainda, que a própria guerrilha cubana recebeu ajuda militar norte-americana, que tentava manipular a disputa pelo poder em Cuba. Da Flórida, da Louisiana e do Alabama vieram veículos, munições e apoio logístico que tinham a justificativa de aumentar a influência da CIA na América Latina.

Fidel e Che - Tomada do Poder

Sol e Vênus em fina sintonia na vitória da Revolução.

Segue-se uma série de batalhas favoráveis à guerrilha cubana. Nos dias finais de dezembro de 1958, Che Guevara e uma nova coluna dirigiram um “esquadrão suicida” (que efetuou as mais perigosas missões das forças rebeldes) que novamente atacou Santa Clara, numa das batalhas mais decisivas da Revolução. Finalmente Batista, enquanto seus generais negociavam um acordo de paz, voa para a República Dominicana em 01.01.1959.

Com a partida do ditador, fica consumada a vitória dos revolucionários. Che estava consagrado em virtude de seu papel fundamental ao longo de toda a guerrilha. Ao tomar o poder junto de Fidel e Raúl, o Sol aplicava conjunção exata a sua Vênus natal e Vênus, por sua vez, fazia o mesmo a seu Sol natal. Esta vitória havia alavancado Che, definitivamente, no cenário geopolítico mundial.

Che e o Poder

La revolución ha triunfado. En el 3 de enero de 1959, a las cinco y cuarto de la tarde, Guevara, casi desapercibido por la población, ingresa a la ciudad sin necesidad de combatir.

Che entra em Havana.

Che entra em Havana às 17:15hs de 03.01.1959.

Note que no instante em que chega à capital cubana, o Ascendente cravava a cúspide da casa IV de Che Guevara, com a Lua [dispositor da mesma] na casa VIII (mudança de residência) e em conjunção com Netuno (onde iria criar, finalmente, sua utopia de nação: Sol quadratura Netuno e Júpiter trígono Netuno no radix).

Cidadania cubana.

Che passa a ser considerado “cidadão cubano de nascença”.

Pouco mais de um mês depois, em 09.02.1959, o governo revolucionário proclama Che como “cidadão cubano de nascença”, em reconhecimento ao seu papel no triunfo da guerrilha. Saturno chegava ao Meio do Céu, simbolizando a tomada ao poder (era o segundo homem mais poderoso de Cuba) e a grande popularidade, além da “nova cidadania” [Saturno na casa IX do mapa natal]. Lua e Vênus em trânsito estavam sobre a Lua natal, indicando o gesto carinhoso dos cubanos em reconhecê-lo como um dos seus.

Che divórcio.

Vênus sobre Plutão natal e Urano em quadratura com Vênus natal: o processo de divórcio chega ao fim.

No dia 22.05.1959, o processo de divórcio põe formalmente um ponto final em seu casamento com Hilda Gadea. Ambos estavam separados desde a ida de Guevara para Cuba (quando Urano já aplicava quadratura a Vênus natal) e, no dia do divórcio, Vênus formava conjunção com Plutão natal, na casa IV. Após a vitória da Revolução, Hilda e sua filha mudam-se para Havana.

Che e Aleida March

Che e Aleida March.

Ainda naquele ano ele viria a se casar com Aleida March, uma cubana que fazia parte do M-26 e com quem vinha morando desde novembro de 1958. Não se sabe ao certo quando Aleida nasceu (1936 ou 1937). Ela evita sistematicamente entrar em sua vida pessoal ou falar sobre Che (mas lançou em Havana, em março de 2008, um livro de memórias).

Aleida militou clandestinamente no M-26 desde os primeiros tempos da guerrilha, tendo fama de audaz e valente. Lolita Russel, uma amiga íntima e também militante do M-26, afirma: “Ela não tinha medo de nada. Muito abnegada, séria, solteira e não era chegada a festas ou coisas desse tipo”. Che e Aleida conviveram por oito anos, tendo gerado quatro filhos. É ela quem afirma:

El Che volvía tarde a casa, a las tres o cuatro de la madrugada, a veces a las seis. Dormía sólo cinco o seis horas diarias. ¡Imagínese! ¡Estaba construyendo una nueva sociedad! ¡No podía dedicarse al hogar y a la casa!

Che segundo casamento

A conjunção entre Sol e Mercúrio em trígono com o Nodo Norte (aspectos exatos): Che casa-se com a companheira de lutas.

Casaram-se em 02.06.1959, poucos dias depois do divórcio de Che. Nesta data, uma conjunção exata entre Sol e Mercúrio em Gêmeos selava a união entre os dois amantes que, antes de qualquer coisa, tinham uma profunda identificação ideológica, um temperamento muito semelhante e um estilo de vida em comum. Enfim, eram “companheiros”. Os trígonos exatos que ambos os planetas aplicavam ao Nodo Norte em Libra, na casa VII de Che, indicam esta sintonia. A Lua, em Touro, aplicava conjunção a Vênus natal e Vênus, por sua vez, formava uma sextilha com o Sol natal.

che-responsabilizado

Che é reponsabilizado por execuções sumárias.

Assim que chegou a Havana, no início de 1959, Che Guevara foi nomeado comandante da Fortaleza de La Cabaña, uma prisão, e permaneceu no cargo até junho do mesmo ano. Lá, comandou julgamentos e execuções de várias pessoas ligadas a Fulgêncio Batista, tais como oficiais e membros do órgão para a repressão de atividades comunistas, da polícia secreta.

Pessoas que trabalharam em La Cabaña, junto a Che, alegam a existência de procedimentos sem base legal onde “os fatos eram julgados sem qualquer consideração aos princípios jurídicos gerais”, com os fatos sendo predeterminados por Che. É estimado que gire em torno de 160 o número de pessoas executadas por ordens extrajudiciais de Che no período em que permaneceu no posto.

Em seguida, Che torna-se oficial do Instituto Nacional de Reforma Agrária e, em 26.11.1959, é nomeado pelo Conselho de Ministros para a presidência do Banco Nacional de Cuba, assinando as notas postas em circulação com o próprio apelido. Durante a acumulação de cargos, Guevara recusou-se a receber os dois salários a que tinha direito, insistindo que era apenas um comandante do exército e tinha a obrigação de dar o “exemplo revolucionário”.

Ainda em 1959, organizou expedições fracassadas ao Panamá e à República Dominicana, interrompendo uma curtíssima lua de mel do seu casamento com Aleida March.

Che por Alberto Korda

A famosa fotografia de Alberto Korda, tirada em 1960.

Em 1960, o médico Che entrou novamente em ação prestando primeiros socorros às vítimas da fragata La Coubre, uma embarcação francesa que trazia munição do porto de Antuérpia para Havana. Uma operação de resgate teve então início imediato, mas uma segunda explosão resultou em mais de uma centena de mortos. Foi durante os funerais para as vítimas desta explosão que Alberto Korda tirou a mais famosa fotografia de Che, em 05.03.1960. A foto só ficaria famosa sete anos depois, tornando-se a mais reproduzida de todos os tempos. No mesmo filme, Jean-Paul Sartre e Simone de Beauvoir aparecem ao lado do Comandante.

O Maryland Institute College of Art considera a foto de Korda como sendo “a mais famosa do mundo e um símbolo do século XX”. Curiosamente, ela não foi publicada nos jornais cubanos por que os registros envolvendo o casal Sartre-Beauvoir eram mais valiosos para a Revolução. Depois de 1967, várias versões estilizadas das mesma foto foram criadas e correram o mundo. Korda, comunista convicto, nunca havia recebido um royalty sequer por ela. Mas, após vê-la numa propaganda de vodca, declarou:

Usar a imagem de Che para vender vodca era um acinte com seu nome e sua memória. Ele nunca bebera e as bebidas não poderiam ficar associadas a seu nome. Como apoio às ideias pelos quais Che morreu, não tenho aversão à reprodução da foto por aqueles que querem propagar sua memória e a causa contra as injustiças sociais no mundo.

Korda recebeu, enfim, US$ 50.000,00 ao final do processo que moveu contra a empresa que fizera a campanha para a companhia de bebidas.

Che com Sartre e Simone de Beauvoir

Che, com Jean-Paul Sarte e Simone de Beauvoir.

No dia 23.02.1961 Che Guevara é nomeado Ministro da Indústria pelo governo revolucionário. O mexicano Jorge Castañeda afirma que “a competência real de Guevara para comandar o Ministério da Indústria era muito pouca ou nenhuma. Se levarmos em conta o critério de ‘estímulos materiais’, e não o de ‘estímulos morais’ (estes, pregados por Che), Cuba nunca teve um pior resultado em termos de inflação e da colheita da cana-de-açúcar no ano em que Che esteve no posto. Enfim, ele talvez fosse melhor guerrilheiro que político, mas isso cabe à História julgar”.

No posto, Che colaborou decisivamente para formular o socialismo cubano, sendo que é justamente em 1961 que Fidel oficializa o regime comunista na ilha. É certo que o convívio com Che, desde os tempos da guerrilha, foi fundamental para a guinada à esquerda de Castro.

Ainda que a performance de Che no Ministério da Indústria seja criticada, ele estabeleceu salários e condições dignas de trabalho, conseguindo aumentar a satisfação dos operários. É importante ressaltar que, quando recebeu a incumbência de coordenar e incrementar as indústrias recém-nacionalizadas, havia um quadro absolutamente adverso, já que a pequena nação era fustigada e boicotada pelo imperialismo norte-americano. Com isto, a aproximação com os russos tornou-se fundamental, dentro da lógica bipolar da Guerra Fria, posto que o prosseguimento da Revolução estava ameaçado pela fragilidade da economia cubana.

Che Ministro

Em 23.02.1961, Che é nomeado Ministro da Indústria.

Quando observamos os trânsitos da posse como ministro, percebemos que uma conjunção entre Júpiter e Saturno, na casa X, aplicava trígonos para o Sol de Che, bem como Plutão, então em Virgem, formava trígono com o Meio do Céu, consolidando a sua posição de segundo homem da hierarquia cubana. Todavia, Urano aplicava quadratura exata ao Sol natal, corroborando as teses de que os métodos pouco ortodoxos que privilegiavam “estímulos morais” poderiam manter a unidade do povo cubano no apoio à Revolução, mas eram, efetivamente, de pouca objetividade.

A oposição de Sol e Mercúrio em Peixes a Plutão em Virgem aponta que Che talvez estivesse agindo com teimosia demasiada. Finalmente, uma oposição exata de Netuno na casa VIII a Vênus natal na casa II revela que Che não estava realmente em um bom período para assumir diretrizes de ordem econômica.

Durante a fracassada invasão norte-americana à Baía dos Porcos, em 17.04.1961, Che Guevara não se encontrava na verdadeira frente de combates, posto que se deslocara para um posto de comando na província de Pinar del Río, no extremo oeste de Cuba, acreditando que seria ali que os confrontos ocorreriam. Fidel já esperava um ataque à ilha, tendo sido alertado previamente por Che, que presenciara um ataque semelhante na Guatemala.

Em Pinar del Río, Che disse que sofreu um tiro de raspão no rosto, causado por um disparo acidental de sua própria arma. Depois da tentativa de invasão de Cuba, as relações entre a ilha e os EUA azedariam de vez e a aproximação com a URSS era inevitável.

Che Guevara preso na Bolívia, 1967.

Che Guevara preso na Bolívia por um pelotão do Exército, em 8 de outubro de 1967. No dia seguinte seria executado.


Os últimos anos de Che Guevara

Em seus últimos anos de vida, Ernesto Che Guevara tornou-se o embaixador da revolução cubana no exterior. Desenvolveu intenso programação internacional, seja por meios diplomáticos, seja fomentando guerrilhas em diversos países. Acabou preso e executado na Bolívia, em 1967.

1961: Che no Uruguai

Um aspecto muito importante envolvendo Che Guevara e a Revolução Cubana é que ele assumiu quase que exclusivamente as relações da ilha com o mundo exterior. Levando-se em conta que Júpiter [dispositor da casa IX] tem destaque em seu mapa natal e Saturno, radical na casa IX, transitava pela casa X, nota-se a frequência e o caráter crucial de suas viagens e negociações internacionais. Este fato terá íntimas consequências, por exemplo, sobre as relações com os Estados Unidos e a União Soviética.

Representando o governo cubano, Che Guevara visitou diversos países do Terceiro Mundo, constatando que o principal problema das nações subdesenvolvidas da África, Ásia e América Latina era a espoliação imperialista dos países desenvolvidos, sobretudo dos Estados Unidos.

Em 02.08.1961 Che viaja liderando a delegação cubana rumo à Punta del Este, no Uruguai, para participar da Conferência do Conselho Interamericano Econômico e Social. No aeroporto de Carrasco, milhares de pessoas receberam a delegação cantando slogans anti-yankees e aos gritos de “Viva a Revolução Cubana!”. No dia 8, Che intervém na quinta sessão plenária e fustiga a chamada “Aliança para o Progresso”, proposta pelos norte-americanos.

Che em Punta

Che discursa em Punta del Este, criticando a Aliança para o Progresso.

Neste dia, o Sol em trânsito formava um trígono com Saturno natal, na casa IX, indicando a importância de estar presente numa conferência continental representando a Revolução Cubana. Vênus estava sobre o Fundo do Céu, reforçando o seu sentimento de pan-americanismo num encontro daquele. A Lua aplicava conjunção a Plutão natal e Marte, um trígono para o Sol de Che. O Comandante estava, realmente, com a corda toda.

As quadraturas que Vênus radical recebia do Sol e de Mercúrio insinuam a postura dissidente em relação aos objetivos norte-americanos no encontro, com a proposta da Aliança para o Progresso, que visava reunir os países latino-americanos em torno da liderança dos EUA. Finalmente, uma conjunção entre Urano e o Nodo Norte estava sobre Netuno de Che, radicalizando as ambições de sua “missão” revolucionária. Esta conjunção aplicava quadraturas ao Sol e trígonos para Júpiter.

1961: três horas na Argentina

Dez dias depois, em 18.08.1961, Che visita a Argentina por apenas três horas, para um encontro com o presidente Frondizi, chegando a comer um bife na residência oficial. Ao motorista que o conduziu, perguntou como estavam seu time de rúgbi e o de futebol, o Rosário Central.

O avião aterrisou às 10:30AM. Dele só saiu Carrettoni. Os militares tiraram imediatamente suas luvas, saudaram-no, estenderam-lhe a mão e lhe disseram que o protegeriam com suas próprias vidas. “Não sou quem estão esperando – confessou Carrettoni – Mas são vocês que nos levarão a Olivos? Então, só um segundo”. Voltou ao avião e disse a Che: “Pode descer tranquilo”. Quando Guevara pisou em terra Argentina, viu dois marinheiros boquiabertos, tão paralisados com o assombro, que nem sequer notaram que suas luvas caíram na relva coberta pelo orvalho da noite anterior.

Che reencontra a Argentina

Che reencontra a Argentina.

Por menos que Che Guevara tenha estado em sua pátria de origem, o momento merece considerações especiais. Ernesto voltava ao país tendo tido sucesso em suas ambições revolucionárias. Saturno [dispositor do Meio do Céu e radical na casa IX] aplicava um trígono para o Sol natal [1º16’ de órbita] o que também fazia Júpiter [ambos na casa X]. Ou seja, Che retornava praticamente como um chefe de estado, não era mais um anônimo, enfim, uma pessoa de poder.

A Parte da Fortuna acompanhava a ambos no feixe de trígonos. Por sua vez a situação era delicada, posto que Guevara era um agente de sublevação dos povos e visto com desconfiança em sua terra natal. O presidente Frondizi teve de fazer uma tensa negociação com a cúpula militar para que a visita fosse possível. Che só desceu do avião após saber que estaria tudo ok: tal contexto é simbolizado pelo trânsito de Marte [regente do Mapa de Che] pelo Descendente, em oposição à conjunção entre Marte, Urano e o Ascendente natais.

Che, em virtude do desenvolvimento do mito em torno de sua pessoa, que estava relacionado a seus ideais revolucionários e comunistas [Netuno na V], havia passado por um trânsito de Plutão sobre Netuno natal no passado e, agora, depois do encontro em Punta Del Este, tinha Sol, Urano, Mercúrio e o Nodo Norte sobre o mesmo. A amplitude do personagem que criou recaía sobre ele mesmo [stellium em Leão numa quadratura ao Sol natal]. Ter Che dentro de suas fronteiras era um perigo para qualquer ordem estabelecida.

O mesmo stellium em Leão formava trígonos com Júpiter natal, estimulando sua liderança e felicidade. Pelos seus valores pessoais, El Comandante retornava “grande” à Argentina. Vênus e o Meio do Céu do desembarque estavam em conjunção a Plutão natal na casa IV e a Lua [conjunta a Netuno] estabelecia trígonos com estas três coordenadas, o que dá a dimensão do tom de emoção e afeto nesta breve – mas impactante – visita ao país onde nascera. Finalmente, o Ascendente crava a cúspide de sua casa VIII: tratava-se de um misto de retorno ao passado com transformações radicais inegáveis.

A visita de Che ao Brasil em 1961

No périplo, Che esteve ainda no Brasil, sendo condecorado com a Ordem do Cruzeiro do Sul pelo Presidente Jânio Quadros.

Che com Jânio Quadros.

Che com Jânio Quadros.

“A posição adotada pelo Brasil foi, sem dúvida, o maior fator para que Cuba fosse tratada na Conferencia de Punta del Este como país americano” — afirmou nesta capital o ministro cubano “Che” Guevara, em entrevista que concedeu à imprensa. Acompanhado de uma comitiva de cinquenta pessoas, Guevara chegou às 23h30 de ontem [18.08.1961], procedente de Montevidéu e reencetou hoje, às 15 horas, a viagem de regresso a Havana, após ter mantido conferência com o presidente Jânio Quadros, que o condecorou com a “Grã Cruz da Ordem Nacional do Cruzeiro do Sul”. Depois da audiência com o sr. Jânio Quadros o líder revolucionário informou que se tratara de uma visita de cortesia, durante a qual manifestou ao presidente “o testemunho do agradecimento do governo cubano pela posição do Brasil em Punta del Este, além de apresentar as saudações pessoais do 1º ministro Fidel Castro” (Folha de S. Paulo, 19.08.1961).

Ostentando já a comenda, o ministro cubano agradeceu:

Sr. presidente: como revolucionário, estou profundamente honrado com esta distinção do governo e do povo brasileiros. Porém, não posso considerá-la nunca como uma condecoração pessoal, mas como uma condecoração ao povo e nossa revolução, e assim a comunicarei com as saudações desse povo que V.Exa. pessoalmente representa. E a transmitirei com todo desejo de estreitar as nossas relações (idem).

Durante a entrevista que concedeu após a cerimônia, Guevara disse que Cuba não subscreveu as decisões de Punta del Este porque “não poderia apoiar uma Aliança Para o Progresso, de que não participa”. Acentuou ainda que a declaração resultante da conferência “é ambígua quanto às necessidades dos países latino-americanos e quanto ao que se poderá fazer em seu benefício”. “Não obstante — prosseguiu — vimos com simpatia àquela reunião, pois, pela primeira vez, Cuba teve apoio para manter a sua posição de república americana. Antes estivemos sempre sós e de tal maneira agredidos, que só poderíamos reagir de maneira violenta.

Nesta conferência, a atitude do Brasil e também de outros países puderam evitar aquelas agressões pesadas e as tentativas de afastar Cuba do continente, mantendo-a isolada.” Che revelou a opinião de que a “Aliança Para o Progresso não resolverá nada”, uma vez que os Estados Unidos “tentam recuperar-se perante a América Latina”. Assinalou, contudo, “dois fatos novos animadores”: 1º) os EUA “reconhecem que há situações que é necessário enfrentar; e 2º) vários países falaram linguagem diferente da usual nesse tipo de conferência” (ibidem).

Elogiando a política exterior de nosso país que o sr. Paulo de Tarso apresentara como “característica de Brasília”, Guevara asseverou que o continente inteiro se estava beneficiando com ela. Ainda durante o almoço, o ministro formulou convite para que a Juventude Democrática Cristã visite Cuba. O convite foi aceito e os pormenores da viagem serão concluídos atraves de ofícios (ibidem).

Che recebe a homenagem do governo brasileiro.

Che recebe a homenagem do governo brasileiro.

Jânio Quadros havia intermediado, anteriormente, um pedido do Vaticano para que religiosos cubanos contrários ao novo regime não fossem fuzilados. Apesar de uma política interna relativamente tradicionalista, a política externa janista acirrou os ânimos da oposição ao seu governo, em especial a própria UDN da qual fazia parte e os setores militares.

Além de restabelecer relações diplomáticas com a URSS, Jânio aproximou-se da China e as condecorações a Che Guevara e ao cosmonauta Yuri Gagarin, além da visita de Fidel Castro (em princípio iniciativas que apenas visavam ampliar as relações comerciais com os países socialistas) desagradaram profundamente ao governo norte-americano e às elites conservadoras no Brasil.

O presidente brasileiro acabou renunciando menos de uma semana após Che deixar o Brasil, com o vice, João Goulart, estando em visita à China. Veio o golpe militar de 1964 e o ditador de plantão, Marechal Humberto Castello Branco, resolveu rever as condecorações do governo Jânio Quadros. Che Guevara foi “descondecorado” pelo governo militar brasileiro. Indiretamente, a visita de Che colaborou para que os militares solapassem, poucos anos depois, a democracia brasileira.

A Crise dos Mísseis

A crescente tensão com os Estados Unidos, após o bloqueio econômico, a exclusão de Cuba da Organização dos Estados Americanos e a invasão à Baía dos Porcos inserem-se dentro de uma lógica da Guerra Fria que levou à criação do Muro de Berlim, à Guerra do Vietnã e opunha frontalmente “comunistas” e “capitalistas”.

Como garantia de proteção a novas investidas norte-americanas contra a ilha, a URSS, em abril de 1962, tem a ideia de instalar mísseis nucleares em Cuba. O regime cubano tinha se aproximado da superpotência soviético, sendo que Che fora o principal “arquiteto” desta parceria. Várias conversações e visitas técnicas passaram a ser realizadas ao longo do ano quando, em 27 de agosto, Guevara finalmente viaja à URSS para selar o acordo que nuclearizaria a ilha.

Em 30.10.1962, Che encontra-se com Kruschev em sua residência de verão, na Crimeia. De início, a intenção de Che era tornar pública a instalação dos mísseis para evitar jogo duplo dos soviéticos, ao que Kruschev se opõe, exigindo que se mantivesse tudo em segredo.

Che na Crimeia

Na Crimeia, Cuba e URSS oficializam a nuclearização da ilha.

É interessante observar que, depois de Urano ter um breve ingresso em Virgem entre novembro de 1961 e janeiro de 1962, é em meados de agosto que o trânsito se fará definitivo, iniciando uma aproximação cada vez mais intensa com Plutão, cuja conjunção terá enorme impacto na trajetória de Che Guevara. Ao garantir os mísseis em Cuba, Sol e Lua interpunham-se entre ambos os planetas, dando um caráter inaugural à conjunção aproximativa. Marte estava sobre o Fundo do Céu de Che, revelando a determinação em armar-se domesticamente, havendo ainda trígonos para Júpiter e Netuno em trânsito, e também para sua Lua natal.

Mercúrio, em oposição a Marte, Urano e Ascendente de Guevara, indicava o acordo nuclear com o grande aliado, do qual havia sido um dos principais entusiastas. Este último aspecto também reflete a intenção de Che em tornar tudo aquilo público e, em contrapartida, a própria negativa de Kruschev. Depois de selado o acordo, o mundo ficaria mais próximo do que nunca da 3ª Guerra Mundial.

Para a URSS, a instalação de mísseis nucleares em Cuba era uma resposta aos EUA, que haviam feito o mesmo na fronteira da Turquia com o seu território. Depois da fracassada incursão na Baía dos Porcos, os norte-americanos iniciaram uma série de sabotagens que desestabilizaram o governo cubano. Com os mísseis instalados a menos de 160 km do território dos EUA, Cuba tinha a certeza de que acabaria definitivamente com as hostilidades.

Porém, no dia seguinte ao encontro na Crimeia, a CIA, que já acompanhava regularmente os passos de Che, expediu um telegrama com desconfianças sobre o real motivo de sua visita à URSS, alegando que poderia ter outros fins além dos meramente econômicos. Para a CIA, o acompanhante de Che, Emilio Aragonés, não possuía experiência em assuntos econômicos ou industriais.

Em 6 de setembro, quando Che Guevara retorna a Havana, o aumento da presença militar soviética em Cuba já havia sido detectado. Dias antes, aviões U2 tinham detectado os pontos de instalação dos mísseis. No dia 9 de setembro, monitores da CIA registraram observações feitas por Che a um repórter, numa recepção da embaixada brasileira em Havana, de que “o mais recente programa de ajuda militar soviética era um acontecimento histórico que prenunciava uma inversão no relacionamento de poder entre o Leste e o Oeste”.

Na sua opinião, ele tinha alterado os pratos da balança em favor da União Soviética e “os Estados Unidos nada podem fazer a não ser cederem”. O telegrama da CIA seguia dizendo: “Ele parece achar que a ajuda militar soviética é um gesto da maior importância”.

Em outubro de 1962, com uma oposição entre Marte em Leão e Saturno em Aquário, ocorre a Crise dos Mísseis. Em 22 de outubro, às 19h, o presidente Kennedy fez um pronunciamento em cadeia nacional de TV, anunciando a descoberta e afirmando que um eventual ataque de Cuba a qualquer nação do hemisfério ocidental seria vista pelos EUA como uma ação impetrada pela União Soviética, o que levaria a uma retaliação imediata tanto contra Cuba como a URSS. Kennedy convocou 150 mil reservistas e impôs uma “quarentena naval” contra Cuba, para impedir preventivamente que qualquer suprimento militar pudesse chegar à ilha.

Base de mísseis em Cuba, 1962.

Em 01.11.1962, foto da base de mísseis em Cuba.

Em seguida, os EUA retiraram de Guantánamo todas as pessoas “não-essenciais” para o funcionamento da base e, ao redor do mundo, os militares do país foram colocados em alerta nuclear “3”. A OEA, por unanimidade, apoiou a quarentena à Cuba e 180 navios norte-americanos prepararam-se para o bloqueio naval. A URSS, todavia, declarou que a quarentena era ilegal e ordenou que seus navios furassem o bloqueio.

No dia 23 de outubro a URSS fez saber que revidaria a qualquer ataque norte-americano contra seus navios que se dirigissem a Cuba. O bloqueio teve início às 10:00AM de 24 de outubro. Naquele momento 19 navios soviéticos navegavam na direção de Cuba, sendo que 16 claramente deram meia-volta e apenas o tanker “Bucareste” continuou na direção da quarentena. Os outros dois, “Gagarin”e “Komiles”, foram depois descobertos a poucas milhas do bloqueio, sendo escoltados por um submarino soviético posicionado entre os dois. O grupamento USS Essex foi instruído a bloquear o avanço deste submarino e a usar “pequenos explosivos” caso fosse necessário. Às 10:25hs os dois navios soviéticos recuaram. Um oficial norte-americano chegou a dizer que “estávamos cara a cara, olho no olho, e eles piscaram”.

Foi quando os EUA buscaram uma solução diplomática, querendo que a URSS retirasse as armas nucleares de Cuba com a supervisão das Nações Unidas e que Fidel declarasse publicamente não receber outras armas no futuro. Em troca, os soviéticos pediram que os mísseis da Turquia também fossem retirados. O Brasil tomou parte nas negociações, passando a Cuba a mensagem norte-americana de que, com a retirada dos mísseis, não tentaria mais invadir a ilha. No dia 28 de outubro chegou-se enfim ao consenso.

Durante a crise, Che Guevara ficou novamente baseado em Pinar del Río, no oeste da ilha, para defendê-la em caso de ataque, como no episódio da invasão à Baía dos Porcos. É sabido que Guevara foi um dos principais articuladores da instalação dos mísseis em Cuba. Quando souberam da negociação entre soviéticos e norte-americanos, ficaram furiosos. Diz-se que, quando Castro tomou conhecimento da notícia, quebrou um espelho com um murro. Afinal, os mísseis seriam a grande proteção contra uma eventual invasão.

Che e Nikita Kruschev

Che e Nikita Kruschev.

Che fez então amargas recriminações ao presidente soviético, Nikita Kruschev. Ele jamais perdoaria os russos, considerando o desenlace do episódio uma verdadeira traição. Em Havana, cubanos indignados repetiam o coro “Nikita, mariquita, lo que se da no se quita!”.

Em entrevista ao jornal britânico Daily Worker, semanas depois do episódio, Che, alterando baforadas no seu inseparável charuto com inalações para a asma, declarou que os mísseis estivessem em poder de Cuba (os soviéticos eram quem os controlavam), todos eles seriam usados contra o coração mesmo dos EUA, incluindo Nova Iorque e as maiores cidades norte-americanas. “Nós marcharemos o caminho da vitória mesmo que isso custe milhões de vítimas atômicas. Nós devemos manter nosso ódio vivo e levá-lo às raias do paroxismo”. A entrevista foi publicada em 04.12.1962, mostrando toda a revolta de Che com o acordo feito pelas duas superpotências e, como era de costume, pregando a Revolução nos demais países da América Latina. Sam Russel, o repórter, disse que achou Che “uma personalidade cativante, com quem simpatizei imediatamente (…), sem dúvida um homem de grande inteligência, embora eu achasse que ele estava biruta pela maneira como não parava de falar nos mísseis”.

Che e Éris

A conjunção entre Éris (em vermelho, 1º35′ de Áries), Marte, Urano e o Ascendente poderia levar Che a apertar o botão?

É curioso observar que nos últimos dias da crise dos mísseis Vênus entrou em movimento retrógrado aparente no signo de Escorpião, marcando a virada no que estava previamente combinado entre russos e cubanos, além da própria solução diplomática entre os EUA e a URSS. As declarações de Che arranham gravemente a sua imagem, já que ele se revelava disposto a levar o mundo à 3ª Guerra Mundial. Quando buscamos pela posição de Éris no seu mapa natal, vemos que a “deusa da discórdia” está situada entre a conjunção de Marte, Urano e o Ascendente, levando a crer que talvez Che Guevara fosse realmente capaz de matar milhões de pessoas com bombas atômicas.

Che no Daily Worker

Céu tenso para Che: as declarações no Daily Worker maculam sua imagem.

A entrevista de Che, obviamente, repercutiu muito mal. Quando é publicada, Mercúrio, acompanhado pelo Sol, está numa Quadratura T com a conjunção Urano-Plutão e com uma conjunção Lua-Júpiter. Mercúrio estava sobre Saturno natal, aplicando quadratura à sua Lua e Vênus e Netuno faziam oposição a Vênus de Che. Saturno fechava outra Quadratura T em seu mapa. O radicalismo de Guevara começava a ser problema para os soviéticos e alertava os EUA, que temiam a propagação de movimentos revolucionários pela América Latina.

Transtornos políticos e familiares: Che é um perigo

À medida que Che Guevara segue pregando a Revolução na América Latina, sua condição de “subversivo” ricocheteava em sua própria família. Em fevereiro de 1962, a polícia Argentina desativou uma bomba colocada na porta da casa de sua mãe. Na noite de sua curta visita à Argentina, no ano anterior, outra bomba destruiu a entrada do prédio onde morava seu tio, após a notícia de que se encontrava no país ter vazado. Em abril de 1963, após uma viagem de três meses a Cuba, sua mãe é presa por mais de dois meses, após regressar à Argentina.

Bem ao estilo de sua conjunção entre Marte e Urano [e Éris] no Ascendente, por onde Che Guevara passava a terra “tremia”. No Uruguai, em 1961, um tiro matou um professor universitário local em uma confusão na plateia organizada por um grupo anticastrista que queria assassiná-lo. Sete meses após a visita de Che o presidente argentino Frondizi foi deposto por militares, tendo o seu encontro secreto com Che colaborado para que o golpe contra ele se acelerasse. Jânio renunciou uma semana após ter condecorado Guevara.

Por volta da época em que a mãe de Che é presa, Plutão aplicava oposição à sua Lua [dispositor da casa IV], marcando não só as consequências de seu perigo subversivo sobre ela, como também sobre toda sua família. E mais, era o próprio “Ernestito” quem estava em processo de metamorfose, com sua mudança sendo sentida de forma drástica pela família. A vida da família passa a ser cada vez mais difícil. O pai de Che confessou que ficara chocado com as execuções sumárias que seu filho promoveu logo após a tomada do poder, na prisão de La Cabaña. O líder guerrilheiro e o reboliço que ele provocou no mundo sacudiram radicalmente a vida da família, e a transformação de sua pessoa espantava seus parentes.

Um Comandante cada vez mais radical

Che livros

Che escreveu livros sobre a Revolução.

Em 1963, Che já havia publicado livros sobre táticas de guerrilha que eram lidos tanto por revolucionários que queriam tomar o poder no mundo inteiro (em especial, na América Latina) e também pelos que se preparavam no sentido de combater a Revolução, principalmente nos Estados Unidos e nas fileiras militares do continente. Nesta época, Che treinava grupos para tomar o poder em sua terra natal, a Argentina.

A retirada dos mísseis pela União Soviética irritara Fidel e Che, este último mais ainda. O Comandante, que recusava quaisquer privilégios para si ou sua família, ficava indignado quando, nas viagens a Moscou, via os dirigentes do PCUS vivendo no luxo, ao contrário do povo russo, que, num regime socialista, não tinha naturalmente direito a regalia de qualquer tipo.

Por outro lado, a partir da Crise dos Mísseis a posição da URSS foi cada vez mais a de uma convivência “pacífica” (dentro da lógica da Guerra Fria, claro) com os Estados Unidos e o mundo ocidental. A China mantinha uma postura cada vez mais distanciada da URSS, radicalizando o seu socialismo com a ideologia da “revolução permanente”, agradando mais e mais ao próprio Che; logo ele que fora o arquiteto das relações de Cuba com a União Soviética.

Nesta época, Che e Cuba tinham participação direta ou indireta em insurgências no Peru, na Venezuela, na Argentina e na África, além de pregarem abertamente a tomada do poder na América Latina de modo geral, o que, mais do que nunca, desagradava aos soviéticos. No entanto, Che era o mais enfático nessa pregação, sendo que a maioria dos partidos comunistas dos países onde estava promovendo insurgências era contra essas iniciativas, posto que estavam alinhados com o PCUS.

A URSS começou a pensar que Che teria se tornado maoísta e ele passa a ser figura incômoda, desestabilizando não apenas a liderança e a doutrinação soviética, mas o próprio ambiente delicado das Guerra Fria. Cuba, por sua vez, era cada vez mais dependente dos russos, sendo que a direção econômica e industrial empregada por Guevara mostrava-se um grande fracasso. Como “embaixador da Revolução” e responsável pela política externa, Che estava sendo por demais agressivo, e tudo que Cuba, ou melhor, Fidel, queria agora era a paz com os EUA.

Símbolo Sexual

Os heróis costumam ser reconhecidos por suas façanhas, mas se são bonitos o seu magnetismo passa a ser ainda maior. Com Che Guevara foi exatamente assim.

Che símbolo sexual

Para a grande maioria das pessoas que conviveu e estudou a vida de Che, ele exercia um poder hipnótico sobre as mulheres e, em determinados casos, até mesmo sobre os homens.

Julia Constenla, biógrafa do guerrilheiro e de sua mãe, revela que a atração que ele exercia “era tão impressionante que durante a conferência internacional de Punta del Este, em 1961, até as mulheres de diplomatas norte-americanos queriam conhecê-lo”. Segundo ela, essa atração fez com que o próprio presidente Kennedy fizesse viajar de imediato ao Uruguai o ator e agente do Departamento de Estado Richard Goodwin, para desviar um pouco os olhares e negociar um encontro com Guevara, que havia minado a Aliança para o Progresso com um discurso demolidor.

Ao final da conferência, houve uma festa de aniversário para um dos membros da delegação brasileira. Richard Goodwin, em relato a Kennedy, afirma que “havia umas 30 pessoas na festa, bebendo e dançando ao som de música americana. Conversei com uma porção de gente e, cerca de uma hora depois, disseram-me que Che estava vindo. Chegou poucos minutos depois. Não falei com ele, mas todas as mulheres na festa se juntaram à sua volta. Então, um dos brasileiros disse que Che tinha algo importante para me dizer”. Os dois passaram para um sala ao lado, onde conversaram por cerca de meia hora, com interrupções de “garçons e gente querendo autógrafos”, até que o norte-americano tomou a iniciativa e terminou a conversa.

Como a ex-mulher de Che, Hilda, morava em Cuba com a filha de ambos e participava ativamente do projeto revolucionário para sua terra natal, o Peru, havia um convívio intenso entre o dois. Aleida morria de ciúmes e numa noite chegou a gritar com ela aos berros. Dado o efeito notável que produzia nas mulheres, um amigo perguntou a Che por que se casara com uma mulher tão feia como Hilda. Che repreendeu-o, mas reconheceu que ela não era fisicamente bonita, mas que ela tinha sido uma grande compañera e que uma pessoa “não precisava ser necessariamente bonita” para ser uma amante apaixonada.

Um de seus colaboradores estava numa reunião social em que uma jovem bonita começou a flertar abertamente com Che. Em vez de se sentir lisonjeado e corresponder com um galanteio ou uma brincadeira, Che a repreendeu de modo sério, dizendo-lhe com “se comportasse”. Entretanto, essa severidade não era constante, pois até mesmo ele reconhecia uma mulher bonita quando aparecia na sua frente. Num jantar em uma embaixada em Havana, Che e outro de seus amigos estavam sentados com a bela filha do embaixador.

Havia claros indícios de que a moça estava “sendo oferecida” pelo anfitrião, que obviamente queria “se aproximar” de Che. O amigo de Che disse que a moça era “tão bonita” que qualquer homem teria esquecido seus votos matrimoniais ou revolucionários só para dormir com ela. Che estava visivelmente tendo dificuldade para resistir e acabou virando-se para o companheiro e sussurrou: “Arranje uma desculpa para me tirar daqui antes que eu sucumba. Ya no puedo más!”.

Mas Che também era capaz de exercer forte atração nos homens. Um enviado russo que tinha a missão de descobrir se Che havia se tornado maoísta ou não, Nikolai Metutsov, teve várias conversas com ele em 1963-64. Numa ocasião, conversaram até o raiar do dia na biblioteca da residência do embaixador soviético e, quando terminaram, nadaram juntos na piscina. Enquanto conversavam, o agente russo começou a ter uma sensação estranha: se deu conta de que estava “se apaixonando” por Che. Ele mesmo revela:

Eu lhe disse: ‘Sabe, sou um pouco mais velho que você, mas gosto de você, sobretudo da sua aparência’ (…) e confessei meu amor por ele, porque ele era um homem muito atraente (…). Conhecia seus defeitos, através de todos os documentos, de todas as informações [que nós russos possuíamos], mas quando estava falando com ele, quando tratamos um com o outro, fizemos brincadeiras, rimos e conversamos sobre coisas menos sérias e esqueci seus defeitos. (…). Senti-me atraído por ele, entende? (…) Ele tinha olhos tão bonitos. Olhos magníficos, tão profundos, tão generosos, tão honestos, um olhar que era tão honesto que, de alguma maneira, não se podia deixar de senti-lo (…) e ele falava muito bem, ficou intimamente empolgado e sua exposição era assim, com todo esse ímpeto, como se as palavras dele o estivessem sufocando.

Che como símbolo sexual

Aspectos natais de Che explicam seu poder sedutor.

Che Guevara era um taurino, com Vênus em Touro, posições notadamente conhecidas por suas características sensuais. Além disso, ele possuía uma conjunção entre Marte e Urano no Ascendente, demostrando que era um homem viril e singular. A Lua, em Peixes, colaborava para sua aura de magnetismo, conferindo-lhe mais sensualidade ainda.

O Sol está em sextilha com Marte, reforçando suas características masculinas, ainda mais por se tratar de Marte no Ascendente. Por outro lado, Netuno na casa V denota um magnetismo e uma magia especiais e cativantes, sendo que Che sabia fazer uso de uma retórica poética para embelezar e dar profundidade aos seus discursos. Vênus está em trígono com o Meio do Céu, um aspecto favorável à popularidade, ao charme e que dá visibilidade no meio feminino. Vênus recebe um sextil exato da Lua e isto permite deixar as mulheres fascinadas e à vontade, ainda mais pelos signos em que ambos se encontram [Touro e Peixes].

A Lua está em trígono com Plutão, proporcionando uma intensidade emocional que aumentava consideravelmente o seu magnetismo. Este aspecto é capaz de criar uma atmosfera de excitação em torno de si. Como as casas envolvidas são a IV e a XII, essa natureza torna-se ainda mais potente. Mercúrio, que está em conjunção ao Nodo Norte e domiciliado, aplica sextis a Urano e ao Ascendente, dando uma lábia original e assertiva. Finalmente, Júpiter em trígono exato a Netuno, nas casas I e V, dava um poder de sedução incrível.

É evidente que Che, com toda a importância histórica e a enorme coragem que demonstrou ao longo de sua breve vida (e muitos mitos sexuais tendem a permanecerem “vivos” em função disso), sendo ademais um homem bonito, tinha tudo para continuar a exercer esse fascínio mesmo após a morte.

Fonte:https://constelar.com.br/astrologia-aplicada/personalidades/che-guevara/

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